quarta-feira, 12 de março de 2014

National Acrobat - Bruna Borges Costa





National Acrobat
     As pessoas costumam cobrar da gente um equilíbrio atordoante. como se nós devêssemos nascer pessoas centradas. Sempre vejo pessoas mais velhas tendo aquela serenidade bonita, harmonia incontestável, e me pergunto se esse não é o tipo de coisa que a gente leva a vida inteira pra construir. Quer dizer, eu sou muito jovem pra ser equilibrado?
     Sempre me pego imaginando a figura do acrobata do circo, andando na corda bamba. Eu não gosto muito de circos, mas adoro acrobatas. Eles ficam lá em cima, equilibrados e seguros, felizes,  passeando, cantarolando na corda. Os acrobatas  treinam muito pra conseguir o espetáculo que eu tanto aprecio. Tenho um pouco de inveja deles, pois  mal consigo andar sem tropeçar no ar. Entretanto, eu tenho mais inveja dos equilibristas silenciosos, os que não estão sob a corda, no centro do palco, sorrindo. Estão dentro da própria mente, sérios, centrados e leves. São quase bailarinos, brincam, saltam, giram na corda de emoção e razão trançadas. 
     Gostaria ao menos de saber se  consigo me equilibrar, mas a verdade é que eu nunca sei se a corda está vibrando, se está puindo, se posso dar mais um passo ou se devo esperar e tomar fôlego. Na maioria das vezes me jogo tão de cabeça na vida, nas pessoas, que sinto como se estivesse sempre caindo, mergulhando no ar como quem abraça o chão que vai causar a morte e ao mesmo tempo, anfitrião e virar meu leito eterno, mas o chão nunca chega. O chão vai sempre adiando o encontro e me deixando a pergunta na cabeça: eu sou uma acrobata ou uma suicida? Será que estou me matando por gostar de viver em demasia? Gostar demasiadamente de viver é demasia?

Bruna Borges Costa - Membro da Academia Quixadaense de Letras - Cadeira N° 1.

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