quarta-feira, 17 de abril de 2013

MOMENTOS QUE VALEM OURO


Blogue de vitorfaria :Conhecer, aprender e evoluir, MOMENTOS QUE VALEM OURO


Costumo parar algumas vezes junto de um quiosque de venda de livros, novos e usados, e de jornais e revistas, para dar uma olhadela no material exposto e, algumas vezes, para comprar, uma revista que me despertou especial interesse ou um livro que ainda não tenha lido.
Demoro-me invariavelmente alguns minutos, lendo títulos ou pegando num ou noutro livro para uma breve avaliação antes de me decidir a comprar.
O dono do quiosque, que já me conhece há alguns anos, aproveita para trocar algumas palavras comigo, sobre o que vier mais a propósito e eu, bastas vezes, me demoro um pouco mais, seguindo com divertido interesse alguns diálogos entre ele e outros fregueses que vão chegando e comprando, normalmente, o jornal desportivo ou o diário mais vendido.
Hoje foi um desses dias, em que pude apreciar o seguinte diálogo entre dois velhos clientes que chegaram quase ao mesmo tempo para a compra do jornal e que, mal se viram, trataram logo de trocar o divertido diálogo que se segue:
- Olha quem ele é! Há quanto tempo não te punha o olho em cima, salvo seja.
- Olha o João! Então como é que vais pá?
- Mal. Como é que querias que fosse?
-O quê? Estás doente?
- Mais que isso! Estou doente, danado e pior que urso.
- Mas o que é que te aconteceu?
- O que é que me aconteceu? Mas tu vens de outro planeta ou estiveste emigrado?
- Agora, tens cada uma. Mas explica lá o que tens.
- Olha. Tenho gota, pé de atleta, diabetes, tensão alta, colesterol, a próstata anda a armar-se em grande obrigando-me a mijar aos pinguinhos, o coração, segundo o médico anda também a armar-se em calão, a coluna, parece mais uma corda bamba, o meu clube não anda a jogar nada, o que até me faz aflição, a gasolina vai aumentar, vou passar a pagar taxas moderadoras sempre que vou ao hospital, a mulher diz que o dinheiro é cada vez menos, porque as coisas estão cada vez mais caras. O meu filho, que gosta de ajudar nestas alturas, ficou desempregado e a minha filha meteu-se com um brasileiro que a engravidou e se pirou para o Brasil. Para além disso, os ministros mentem-me, os políticos safam-se, mesmo com as piores sacanices e, como se isto tudo não bastasse, o sacana do cão da minha vizinha do lado, resolveu dar-me uma dentada numa perna que me deixou a coxear. Chega? Ou queres que veja no outro bolso?
- Porra! Isso é que é azar!
- Qual azar? Não é nada de azar. Segundo uma filha da mãe de uma vidente que conheço, nada disto que me está a acontecer é azar.
- Então é o quê?
- É culpa minha, castigo pelos meus pecados. Imagina tu. E ainda por cima, em algumas coisas, tenho de concordar com ela.
- Essa é boa!
- É boa é. A gaja, diz á boca cheia e para quem quer ouvir, que a gota é porque me meto nos copos, tem alguma razão, pé de atleta, é porque em pequeno andei calçado demasiado cedo, também é capaz de estar certo, diabetes, é porque em novo fui demasiado guloso, até que é verdade, tensão alta é falta de exercício, colesterol, são demasiados enchidos e carnes gordas na mesa, mais as petiscadas com os amigos, a próstata, diz ela que é resultado de excessos de cama, aqui tenho as minhas dúvidas, mas vá lá, o coração, com estas mazelas todas, não era de esperar outra coisa e a coluna é porque nunca soube vergar a mola como deve ser. Quanto ao meu clube, quem me manda a mim escolher mal? Até da gasolina, as taxas moderadoras e do aumento das coisas todas, diz ela que a culpa é minha porque não soube escolher os governantes quando votei.
- Bem, mas pelo menos no que respeita ao teu filho e á tua filha, a culpa não será tua.
- Aí é que tu te enganas! Se o meu filho perdeu o emprego foi porque não o ensinei a arranjar um tacho seguro, e se a minha filha está grávida e sem marido, a culpa é minha, que não lhe dei a educação que devia. E para terminar, imagina tu que até pelo fato de levar uma dentada do cão da vizinha a culpa é minha. Diz ela que só pode ter sido porque cheiro mal dos pés, o que deve ter irritado o animal. O que é a mais pura das mentiras.
- Safa! Que raio de vidente, que tu foste arranjar.
- Pois. Mas tu também a conheces e nem queiras saber o que ela diz de ti.
- Conheço-a? Mas de onde?
- Da minha casa, palhaço! Estou a falar da minha sogra.
Escusado será dizer, que eu e o dono do quiosque que seguíamos divertidos esta conversa, largamos uma sonora gargalhada que acabou por ser seguida de um ataque de riso entre os quatro.
Claro que foi uma conversa tonta, mas que me deu motivos para ficar um pouco mais bem-humorado, lá isso é inegável, e espero que o mesmo suceda com quem ler este texto.
Valeu ouro, este momento divertido em dia meio cinzento e triste.

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