Laranjeiras
Na visita ao sertão, para ver a seca
de perto em terras do Riacho do Sangue, passei por Laranjeiras. O centenário vilarejo
fica à margem esquerda do rio Banabuiú, a 7 km da sede do município, cidade homônima
que nasceu e cresceu com a construção do grande açude. Defronte à igreja do
glorioso padroeiro, São Sebastião, encontra-se a praça com o busto do senhor Giminiano
Nobre, antigo benfeitor do lugar. Obra
de bom gosto e bem acabada, realizada na gestão do saudoso prefeito Dr.
Benedito Gonçalves de Melo, o médico dos pobres, falecido em um acidente de
carro em pleno exercício do mandato.
Todos os anos, no dia 20 de janeiro,
celebram-se muitas festas em Laranjeiras, com o comparecimento de um grande
número de fiéis. Além da missa e dos batizados, sucessos de maiores destaques, existe
o comércio em barracas espalhadas pelas calçadas e pela praça: confecções,
brinquedos, sandálias, óculos escuros, bijuterias, loções, comidas típicas,
cerveja, cachaça... O escambo é uma
graça, a secular prática da troca de mercadorias, porco por bicicleta, por
exemplo, com a tradicional volta, porque todos sabem, a volta é que faz o
anzol. Só não se vende cururu, porque a feira não é de Caruaru! Banca-se até o
caipira, jogo de azarque a polícia faz de conta que não o vê, porque o dia é do
Santo. À noite, é a vez do forró pé de serra, uma loucura quase divina: dançam,
namoram, fecundam, estranham-se e às vezes puxam faca, sem maiores assombros.
Contam os mais velhos a história engraçada
de uma menininha muito devota.Enquanto a mãe sofria as dores do parto, trabalho
difícil, ela foi à missa em Laranjeiras. Rezou pela sorte da mãe e depositou um
óbolo no cofrinho da imagem do santo, que fletiu levemente a cabeça, em
sugestão de agradecimento. A menina julgava que tal fenômeno seria obra de
milagre de São Sebastião e aliviou-se da angústia que lhe apertava o coração. Quando
chegou em casa, o irmãozinho havia nascido em paz, sem intercorrências, sob a
assistência das calejadas mãos da parteira Ana Romana. O feliz resultado obstétrico lhe
reforçou a crença do milagre que a imagem do Santo lhe anunciara, que o tempo fê-la
compreender a astúcia da clerezia.
Sebastião Diógenes.
Da Academia Quixadaense de Letras.
Janeiro/2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita, indique aos amigos.