terça-feira, 18 de junho de 2013

LARANJEIRAS - Sebastião Diógenes Pinheiro


                         Laranjeiras



Na visita ao sertão, para ver a seca de perto em terras do Riacho do Sangue, passei por Laranjeiras. O centenário vilarejo fica à margem esquerda do rio Banabuiú, a 7 km da sede do município, cidade homônima que nasceu e cresceu com a construção do grande açude. Defronte à igreja do glorioso padroeiro, São Sebastião, encontra-se a praça com o busto do senhor Giminiano Nobre, antigo benfeitor do lugar.  Obra de bom gosto e bem acabada, realizada na gestão do saudoso prefeito Dr. Benedito Gonçalves de Melo, o médico dos pobres, falecido em um acidente de carro em pleno exercício do mandato.
Todos os anos, no dia 20 de janeiro, celebram-se muitas festas em Laranjeiras, com o comparecimento de um grande número de fiéis. Além da missa e dos batizados, sucessos de maiores destaques, existe o comércio em barracas espalhadas pelas calçadas e pela praça: confecções, brinquedos, sandálias, óculos escuros, bijuterias, loções, comidas típicas, cerveja, cachaça...  O escambo é uma graça, a secular prática da troca de mercadorias, porco por bicicleta, por exemplo, com a tradicional volta, porque todos sabem, a volta é que faz o anzol. Só não se vende cururu, porque a feira não é de Caruaru! Banca-se até o caipira, jogo de azarque a polícia faz de conta que não o vê, porque o dia é do Santo. À noite, é a vez do forró pé de serra, uma loucura quase divina: dançam, namoram, fecundam, estranham-se e às vezes puxam faca, sem maiores assombros.
Contam os mais velhos a história engraçada de uma menininha muito devota.Enquanto a mãe sofria as dores do parto, trabalho difícil, ela foi à missa em Laranjeiras. Rezou pela sorte da mãe e depositou um óbolo no cofrinho da imagem do santo, que fletiu levemente a cabeça, em sugestão de agradecimento. A menina julgava que tal fenômeno seria obra de milagre de São Sebastião e aliviou-se da angústia que lhe apertava o coração. Quando chegou em casa, o irmãozinho havia nascido em paz, sem intercorrências, sob a assistência das calejadas mãos da parteira Ana Romana. O feliz resultado obstétrico lhe reforçou a crença do milagre que a imagem do Santo lhe anunciara, que o tempo fê-la compreender a astúcia da clerezia.
Sebastião Diógenes.
Da Academia Quixadaense de Letras.
Janeiro/2013.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita, indique aos amigos.