Conversa com o pássaro

P = Então os amigos homens estão todos desesperados com a crise?

H = É verdade. Está terrível.

P = Muito se queixa o homem, de nada.

H = De nada?

P = Claro. Por acaso quer fazer uma comparação da sua vida com a minha?

H = Não se pode comparar, você é um pássaro e eu sou um homem.

P = Pode, pode. Que há coisas com as quais todos temos de nos preocupar.

H = Mas é diferente.

P = Pois é. A nossa vida é bem pior que a vossa e não nos queixamos tanto.

H = Como assim?

P = Por exemplo; quando você tem frio faz o quê?

H = Visto uma roupa mais quente.

P = Pois. Mas eu só tenho esta. Quando você acaba o trabalho vai para onde?

H = Para a minha casa.

P = Mas eu, a casa que tenho é a que vê, mesmo com este tempo. Então? Convencido?

H = Bem…Mas você quando quer ir a qualquer lado voa e eu tenho que ir de carro ou a pé.

P = Pois. Mas a si ninguém o pode parar, quanto a mim há sempre um caçador por ai disposto a dar-me um tiro.

H = Olhe que agora a diferença já não é tanta, pois nunca sei, quando vou para a rua, se não levo um tiro e fico sem a carteira e o carro.

P = Compreendo. A vida está difícil para todos. Mas continuo a dizer que vocês se queixam muito e fazem pouco.

H = Ah, sim? E você o que faz quando se sente ameaçado?

P = Eu?...Piro-me. Mas também sou um pássaro, que queria você que eu fizesse?

  

Vitor Faria