DIÁLOGOS IMPROVÁVEIS – O GATO
- Olá, amigo gato. Como vai a vidinha?
- Como sempre. Comendo, dormindo e observando o Mundo.
- Bem, temos um gato filósofo?
- Não. Apenas observador.
- E que observa o amigo gato?
- Que o Mundo progride mas o homem, não.
- Essa agora!??
- Já vi que não está de acordo.
- Claro que não! Então o Mundo progride e o homem não? No mínimo não faz sentido.
- Faz, faz. O homem de hoje, tal como o que vivia há sei lá quantos séculos atrás, continua a preocupar-se com as mesmíssimas coisas, só que lhe mudou os nomes, ou nem isso.
- Ah, sim? Então dê lá um exemplo.
- Você hoje apanha-me bem disposto, porque normalmente não sou de grandes conversas. Então diga-me lá, se não é verdade que uma das maiores preocupações do homem de hoje são as mulheres e o sexo.
- Bem, eu não lhe chamaria preocupações.
- Chame-lhe o que quiser. Mas não vai negar que há centenas de anos já isso era um dos principais assuntos de interesse e preocupação do homem…
- Ora, ora. E vocês gatos, nesse particular evoluíram alguma coisa?
- Estamos a falar dos homens. Não dos gatos.
- Está bem, está. Nesse particular, homens, gatos e cães é tudo o mesmo.
- Alto lá! Nada de misturas! Cães?
- Eu compreendo que não goste de cães, mas afetos dependentes porquê?
- Ouça lá, então quem é que passa a vida a abanar a cauda por uma festa? Quem é que gasta horas a lamber as pessoas à espera de um afago? Quem é que corre feito parvo para apanhar um pau que o dono manda fora e volta com ele na boca à espera de uma festa?
- Está bem. Mas os gatos também se roçam pelas pernas das pessoas a fazer rom-rom à espera de quê?
- Mas é só quando nos apetece. E se não nos apetece já sabe como reagimos a qualquer tentativa de aproximação. Somos felinos. Temos a nossa dignidade e orgulho e detestamos baboseiras. Para além de não nos considerar-mos escravos de ninguém.
- É por isso que andam sempre a afiar as unhas?
- Nem mais!
- Mas também é verdade que vocês têm um lado um pouco escuro.
- Está a dizer isso porque tenho um pelo preto?
- Talvez.
- Superstições de humanos e mais nada. Nós os gatos nunca tivemos medo de nos cruzarmos com um ser humano, seja ele preto ou de qualquer outra cor, só que guardamos as devidas distâncias porque vocês são, às vezes, um bocado traiçoeiros. Agora suas excelências se vêm um gato preto a atravessar uma rua, até são capazes de mudar de passeio. Tolices!
- Bem, amigo gato. A conversa está boa, mas tenho que me ir embora. Mas antes, ainda uma perguntinha: Que me diz você da crise?
- Uma grande m…desde que começou essa treta, os meus donos passaram a comprar as minhas latas de comida, das mais baratas o que, em termos de qualidade, deixa muito a desejar. Vejam lá se resolvem isso, antes que eu apanhe alguma doença no estômago.
- Mas isso não é preocupante. Os gatos não têm sete vidas?
- Têm, mas não são para gastar de qualquer maneira como vocês gastam a única que têm.
- Olhe amigo gato, dizem que a culpa da crise, foi de uns gatarrões que se abotoaram indevidamente com umas massas, deixando muita malta com uma mão à frente e outra a trás.
- Já cá faltava a gracinha. Mas olhe que eu sei que esses das massas não são gatarrões mas sim tubarões. Eu não disse que vocês os humanos não aprenderam nada durante todos estes últimos séculos? Nem reconhecem um tubarão, se não quando ele vos morde.
Vitor Faria
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