quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Quixadá - Um destino múltiplo no sertão


A cidade ensina que o sertão não é apenas uma região agreste e revela-se uma grata surpresa para turismo

Visitante, meu amigo! Pode entrar, a casa é sua. Ah! É tão bom nesta vida abrir a porta da rua como quem abre um abraço. Fazendo isso, como o faço, entra a gosto, a casa é sua!". Anos atrás, Rachel de Queiroz escreveu estes versos. Talvez a inspiração tenha sido a chegada de algum passante na Fazenda Não Me Deixes, em Quixadá.

A Cabeça do ET abre caminhos para amantes de ufologia em Quixadá Fotos: Leidianne Valli
Os mais antigos dizem que palavras eternas se perpetuam como ecos, sílabas flutuam por séculos e séculos. Assim, os pensamentos externados pela escritora ecoam até hoje por toda Quixadá. Com o passar dos anos, a cidade se aperfeiçoou na arte de bem receber. O clima é de confraternização. O visitante parece receber um grande abraço. Outra vez, versos de Rachel de Queiroz se revelam atuais: "A gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto de viver acompanhado".

Em Quixadá, o turista viaja nas mensagens explícitas da escritora e descobre um destino diferenciado no Ceará, que se oferece em várias vertentes. Torna-se cristalino o pensamento de que o melhor da vida é querer o que a existência tem de cru e de belo, como diria a filha adotiva da cidade.

A beleza começa pelos prédios antigos e preservados do lugar, se reflete nas águas do açude Cedro e revela-se majestosa nas grandes pedras de Quixadá que, à primeira vista e nas palavras de Rachel de Queiroz, "se destacam abruptamente sobre a vastidão arranhenta da caatinga, erguendo, céu acima, enormes escarpas de granito".

Quixadá quer dizer "curral de pedras". O nome não poderia ser mais apropriado. No destino sertanejo, monólitos dominam a paisagem e atiçam a imaginação. As formações rochosas foram esculpidas pela natureza e muitas delas parecem portais a unir a pré-história ao futuro não tão distante assim. Há quem diga que homens pré-históricos caminharam por ali. Outros asseguram a presença constante de extraterrestres em seus discos voadores. A pedra Cabeça do ET seria uma marca deixada pelos alienígenas.

A grande quantidade de térmicas faz de Quixadá um ponto privilegiado para a prática de voo livre, com direito a conferir belas paisagem durante os passeios
Opiniões à parte, os monóli-tos convidam a programações recheadas de aventura, imperdíveis sobretudo para adeptos de escalada e rappel. Dentre as inúmeras formações, as pedras da Galinha Choca, Faladeira, do Cruzeiro, da Santa, do Barney, do Eurípedes, da Riscada e da Serra Branca são destaques. José Gilmarks de Lima, o Kid Aranha; e José Gildo Perigoso atuam em Quixadá e fazem o visitante aventureiro encontrar o seu desafio ideal no curral de pedras.

"Estão disponíveis 20 vias de escalada. Basta ter saúde boa e disposição para aventurar-se", ressalta Kid Aranha. Ao vê-lo subir e descer pelas formações rochosas quixadaenses, logo se percebe porquê ele ganhou o apelido. Sua habilidade é tamanha. Seu espírito aventureiro maior ainda. A crista dos monólitos é o limite.

O sonho de voar

O roteiro de aventura em Quixadá inclui, também, passeios pelos ares. O eterno sonho de voar transforma-se em realidade para muitos. A cidade é considerada o melhor local para a prática de voo livre na América do Sul devido à grande quantidade de térmicas na região. O principal ponto de decolagem é uma rampa na Serra do Urucum, junto ao santuário. Quem quer aprender a atividade conta com o apoio de instrutores supervisionados pela Federação Cearense de Parapente e Asa Delta.

O destino sertanejo sedia algumas importantes competições nacionais, como o XCeará, evento que conta com a participação de pilotos dos ares de dezenas de países. A 18ª edição já está programada para o período de 23 a 28 de novembro próximo. Antes, Quixadá recebe o Encontro Internacional de Voo Livre, a partir de setembro próximo e até o final do semestre. A ideia é cristalizar o destino sertanejo como a Terra do Voo Livre, além da implementação de uma política para os esportes de aventura no lugar por parte do poder público.

Para quem prefere a terra firme, árvores centenárias favorecem a prática de arvorismo. A vegetação de caatinga e o terreno pedregoso e acidentado abrem espaços para motocross, mountain bike, corridas de orientação e enduros.

Trilhas convidam a saudáveis caminhadas, com direito a conferir toda a exuberância da vegetação do semiárido em que cactos e bromélias compõem belos arranjos naturais que parecem brotar das pedras. A Trilha da Barriguda é a mais conhecida. Vale conferir também as trilhas das Andorinhas, do Olho d´Água e do Boqueirão.

Devoção bem pertinho do céu
"Mãe Senhora tão bela deste sertão tão querido, o Cristo é a estrela no teu santuário amigo. A ti, com o coração singelo, nós entregamos a vida do nosso sertão e a ti confiantes rezamos. Rainha Mãe do Sertão! Com fé, nós te consagramos a vida e o coração e ao céu nós caminhamos". O hino da Imaculada Rainha do Sertão bem expressa a fé que preenche o peito e salta para fora, contagiando a todos em volta.

O Santuário de Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão foi erguido em um platô no alto da Serra do Urucum, a mais de 500 metros acima do nível do mar. O espaço turístico-religioso faz o visitante aproximar-se de Deus FOTO: ALEX PIMENTEL
Quixadá é protegida pela Mãe Rainha do Sertão, que observa tudo do alto, em meio a monólitos, numa esplanada encostada ao Morro Urucum, numa altura de 501 metros acima do nível do mar. Lá, foi erguido o Santuário de Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão, onde pessoas de todas as idades encontram as trilhas que conduzem à conversão que transforma suas vidas e aproxima de Deus.

A ideia de dom Adélio Tomasin, então bispo da Diocese de Quixadá, virou realidade. Inaugurado em 11 de fevereiro de 1995, o santuário é baseado na sobriedade e simplicidade da mãe de Cristo e hoje é um foco de irradiação de devoção Mariana. Como mãe, a rainha do sertão acolhe a todos que chegam e convida a abrir o coração para ouvir seus ensinamentos e tornarem-se pessoas melhores.

Uma pirâmide de tubos de aço - a Torre Piramidal -, com 20 metros de altura, que remete ao manto de Maria ou a mãos juntas em oração, é o ícone do santuário. Na fachada do templo, destacam-se painéis pintados pelos artistas Walker e Cícero, que representam o mistério da salvação: criação, pecado, encarnação e morte redentora de Jesus.

No interior do templo, 27 painéis apresentam imagens da Virgem Maria com o nome e o título como ela é venerada em cada país da América Latina. O objetivo é fazer com que cada peregrino se sinta em comunhão com os irmãos latino-americanos. Uma imagem em tamanho natural de Nossa Senhora abençoa o cenário, que também abriga a Sagrada Família e Cristo crucificado.

O espaço turístico-religioso tem capacidade para 1,2 mil fieis. Mas, independente do público, o silêncio impera no alto do morro. Só ecoam os acordes da fé. A Comunidade Mariana Oásis da Paz toma conta de todo o complexo. São irmãos e irmãs celibatários, que compartilham uma vida simples de oração, trabalho, estudo, fraternidade e comunhão consagrada ao Senhor por meio de Maria.

A estrutura de receptivo inclui restaurantes, a Gruta da Rainha, acessível por passarela; casa de retiro para 120 pessoas, auditório com 250 lugares, livraria, trilhas para trekking e rampa onde se pratica voo livre e de onde se tem vista fascinante dos monólitos e lagoas.

Uma estrada sinuosa, a partir da Rodovia do Algodão, conduz o visitante ao santuário, a cerca de 12 quilômetros do centro de Quixadá. No caminho, imagens em tamanho natural - cerca de 1,80 metros de altura - representam as 14 estações da Via Sacra. O visitante acompanha a trajetória de Jesus desde a sua condenação, crucificação até o sepultamento e a ascensão aos céus. A confecção das imagens é de autoria do artista plástico Adalécio Feitosa Mariz.

O calendário de eventos no santuário inclui a Festa da Mãe Rainha com a carreata mariana, manhã de espiritualidade dos religiosos, novenário da rainha do sertão, Santa Missa dos Enfermos, o retiro de Carnaval Alegra-te, Tríduo Pascal, Via Sacra dramatizada, coroação de Nossa Senhora, Congresso Mariano Eucarístico, Cenáculo com Maria, Retiro do Natal e, ainda, a Vigília de Ano Novo.

O passeio pela religiosidade no destino sertanejo deve incluir, ainda, visitas às construções deixadas pelos monges beneditinos, como a Capela Nossa Senhora da Conceição, a Casa de Repouso São José e o Mosteiro da Santa Cruz, que formam um bonito complexo arquitetônico de traços coloniais no alto da Serra do Estevão; além da Capela do Cemitério e a Igreja Matriz de Quixadá.

O jornalista viajou a convite do Hotel Vale das Pedras

FERNANDO BRITO *REPÓRTER 
Fonte: Jornal Diário do Nordeste

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