A Prefeitura apoia o evento, mas informa que não concedeu autorização para grafitarem o espaço
O Farol do Mucuripe se tornou o centro de uma polêmica. O bem, que é um patrimônio histórico do Ceará, mas encontra-se em estado precário de conservação, recebeu uma intervenção urbana, por meio do grafite. Então, começaram as indagações sobre a "legalidade" da ação. A questão foi levantada nas redes sociais e passou a ganhar espaço em meio a diversas pessoas.
Quem vai ao local ainda encontra grafiteiros, e há quem defenda que a iniciativa no Farol chamaria atenção das autoridades, enquanto outros acreditam que esta não é a melhor forma de mudar a situação do espaço FOTO: KIKO SILVA
Por meio do evento Festival Concreto, espaços da cidade foram indicados em conjunto com a Prefeitura para receberem as ações, o que não é o caso do Farol. Alguns cidadãos acreditam que a iniciativa no prédio chamaria atenção das autoridades, enquanto outros dizem que esta não é a melhor forma de mudar a situação de abandono.
Narcélio Grude, um dos coordenador do Festival Concreto, - evento por meio do qual estão ocorrendo as intervenções - afirma que a ideia de grafitar o Farol foi tomada por ele próprio. Porém, ele acredita que a pintura, "uma intervenção artística e cultural", não danificou o bem.
Rafael Lima Verde, xilogravurista ilustrador, foi um dos responsáveis pelo grafite no Farol. Além dele, outros dois aristas foram convidados pelo Festival Concreto, no qual pretende disseminar arte urbana na cidade.
O Farol do Mucuripe está abandonado há anos, em estado de conservação precária, com danos que podem até comprometer a estabilidade do prédio
O xilogravurista conta o que pretendia retratar mães com filhos dependentes químicos. Rafael acrescenta que a ideia é fazer o poder público lembrar daquele lugar. "O Farol foi abandonado pelas autoridades, mas foi ocupado por mendigos e usuários de crack. Passou a ser povoado de outra maneira" enfatiza.
O Farol está localizado na Rua Vicente de Castro, no Cais do Porto. No local também se encontra a comunidade Serviluz. Um dos moradores, conhecido como Mad, ajuda na nova pintura do patrimônio. "A nossa vontade era pintar tudo de preto, pra mostrar o luto da comunidade em relação ao abandono do Farol" conta. Mad reside no bairro há 17 anos e acredita que o descaso com relação ao bem é reflexo do desdém com a comunidade. "Se ele estivesse em um bairro nobre, não estaria destruído desse jeito. A gente quer que ele volte a ser como antes. A história da nossa cidade está aqui também" certifica.
Olhar
O arquiteto e urbanista Romeu Duarte não concorda com esta forma de chamar atenção. "Sou contra essa grafitagem, não é a forma correta de atrair o olhar do poder público" afirma. Ele enfatiza que esse ato vai contra a legislação que prevê a preservação do patrimônio público.
Já o secretário da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude de Fortaleza, Élcio Batista, afirma que a Prefeitura apoia o evento, mas que não concedeu nenhuma autorização para a intervenção no Farol. No entanto, outros locais receberam permissão, como os Centros Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cucas) da Capital.
O governo do Estado é o responsável pela conservação do Farol, tombado há cerca de 30 anos. Ontem, devido à polêmica, foi enviada uma equipe da Coordenadoria do Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural (Copahc) para uma visita técnica no local. Ficou constatado que o edifício encontra-se em situação precária de conservação, os danos podem até comprometer a estabilidade do prédio.
Por meio de nota, a Secretaria da Cultura do Estado (Secult) reconheceu a importância do arte urbana, mas considera que a grafitagem, como qualquer outra intervenção feita em um bem tombado, deve ter autorização prévia e orientação do órgão que processa o tombamento, para que a preservação do equipamento continue sendo feita.
Diário do Nordeste
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