O beija-flor, suspenso no ar diante dos hibiscos do quintal, arrulha.
A ovelha, paciente e terna, bale.
O pardal inquieto chilreia.
O peru, majestoso e solene como um juiz togado, gorgoleja.
O canário, em súbita aparição nas frondes do coqueiro, trina, mas o encanto dura pouco e ele desaparece no azul.
A cobra silva e logo se esconde, deslizando sua serpeante anatomia por entre pedras e arbustos.
O sagui, reclamando suas bananas de todo dia, chia.
A mosca zumbe, impedindo o sono matinal.
A onça, nos grotões esquecidos, esturra.
O lobo uiva, em qualquer filme de vampiro.
O jumento, excitado e descomunal, orneja.
O cachorro ladra, late, gane, rosna, acua e uiva imitando o lobo.
O cavalo relincha e nitre, entre nuvens de suor, levantando as patas no ar.
O cabrito berra. Ou melhor: o mau, porque o bom cabrito fica caladinho de tão sonso.
A andorinha gorjeia em revoada fazendo o verão, como num samba antigo.
O corvo crocita seu eterno nunca mais, e prenuncia desgraças.
O ganso grasna e grita, espantando os intrusos.
O sapo coaxa, mora na beira da lagoa e não lava o pé porque não quer.
O porco grunhe, ronca, guincha e se revolve na lama quente e macia, enquanto acumula delícias em sua carne suculenta.
O elefante barre.
A galinha cacareja, cacareja, cacareja e
o galo canta e clarina enquanto
os pintainhos piam, desesperados e carentes.
A abelha zune, zumbe, zunzuna, zonzoneia e zoa, tudo com “z”, somente para fazer mel.
O bode bodeja, arrastando sua imponência de pai-de-chiqueiro atrás de
cabras e cabritas, que berram e balem, mas ficam para ver qual é a proposta.
A cegonha eu nunca vi, mas dizem que glotera.
O morcego trissa e farfalha, em vôos rasantes e sonarizados, desafiando os obstáculos.
O papagaio parla e protagoniza anedotas.
A cigarra canta, chia, cigarreia, estridula e retine, a zombar da muda e estúpida
formiga que, muda como
o peixe, trabalha sem parar.
O gavião guincha, com as garras famintas de preás rechonchudos.
O touro muge, tuge e brame.
A vaca, com seus olhos doces e suaves, também muge, mas noutro tom.
O grilo tritrila e estridula quando a noite cai.
E o gato?
O gato ronrona, mia, resmoneia, rosna e reina sobre a casa, da qual é dono e senhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita, indique aos amigos.