VERDADEIRO TESOURO
João Eudes Costa
Vivemos, constantemente,
angustiados em busca do possuir. Nossos desejos são insaciáveis. Estamos sempre
preocupados em conseguir aquilo que não é possível alcançar. Com esta ambição a
nos guiar os passos, não encontramos felicidade no que na realidade possuímos,
acabando vitimas da infelicidade por aquilo que não conquistamos.
Somos eternos insatisfeitos
com o que está ao nosso dispor, atormentados com a fantasia da suposta ventura
que aos outros pertence.
Acostumados a manusear objetos
em função de nossos caprichos, vaidades e orgulhos, ficamos em desespero quando
tentamos e não conseguimos controlar a força, que, como disse Empédocles,
preside a ordem do mundo: o amor.
O amor é um sentimento puro,
que eclode do âmago de nosso ser para que sejamos felizes. Humilde quando o
deixamos percorrer, livremente, os caminhos do bem, da união e da paz. Violento
quando tentamos materializá-lo, porque não conseguimos domar o seu poder
misterioso.
Não podemos medir o tamanho do
amor. Quanto menor o consideramos, mais ele cresce e nos envolve numa grande
felicidade. Não adianta desejar possuir um grande amor, moldado às nossas
conveniências pessoais. O amor não se curva a um mero querer nem serve de
instrumento de vingança e maldade. Cresce com raízes profundas no terreno
fértil da compreensão e da renúncia. Fenece ao primeiro chamamento da vaidade e
do orgulho de quem não tem a necessária capacidade de amar.
O amor é um grande tesouro,
porém muito diferente da riqueza mundana que, a todo o momento, fazemos
gravitar em torno de nossa soberba e a serviço da iniqüidade.
O amor tem as suas próprias
regras, leais e coerentes, que não podem ser revogadas em proveito da traição e
da mentira. Sutil, chega quando não se espera. Parte sem a nossa permissão.
Permanece, quando o expulsamos. O amor é o abraço que sentimos, sem conhecer as
suas mãos. O beijo que aquece a alma, mas não mutila nem queima o corpo. O
carinho que acalma e nos faz dormir, mas não vemos o seu rosto. A presença que
faz o bem, que conforta e anima e às vezes não sabemos possuir. A companhia
que, mesmo nos fazendo padecer, não queremos perder. O mistério que nos
assusta, mas não conseguimos descobrir. O algoz que nos açoita, mas não
queremos ferir. A força que nos protege e dela queremos fugir. A sombra que
perseguimos e não sabemos encontrar. A felicidade ao nosso lado que não sabemos
viver. O pesadelo que nos sufoca, mas não desejamos acordar.
A humanidade sempre quis
trocar os perenes tesouros espirituais, pelos perecíveis bens materiais, que
tornam empedernidos os corações dos homens. Enquanto Moisés buscava de Jesus os
mandamentos do amor, as regras que nos levam ao reino celestial, um simples
bezerro de ouro envolveu a cobiça dos fracos que não valorizaram e não quiseram
esperar pela grande riqueza do amor.
Não encontramos a felicidade
envolta na opulência das coisas materiais. Quanto mais nos apegamos à ganância
do querer, maior é a motivação para possuir cada vez mais.
Enquanto isto, o amor é um
tesouro que não podemos nem devemos possuir sozinho. Só tem valor se repartido
com os outros. Feliz, na realidade, é quem sabe multiplicar o amor. Do
contrário, sem amar, sem doar, sem repartir e sem compreender, ninguém encontra
a felicidade, porque vagueará, sem destino, em busca do que não conseguirá, do
que não mereceu e do que não foi capaz de possuir.
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