Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza a 17 de novembro de 1910 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 4 de novembro de 2003. Fez o curso normal no Colégio Imaculada Conceição, após o qual dedicou-se ao jornalismo. Cronista de inegável valor foi, ao mesmo tempo, romancista, contista, ensaísta, teatróloga e tradutora de livros. Estreou muito jovem na literatura com o livro O Quinze, que lhe deu renome nacional. Principais obras: O Quinze, 1930; João Miguel, 1932; Caminho de Pedras, 1937; As Três Marias, 1939; A Donzela e a Moura Torta,1948; Lampião, 1953; A Beata Maria do Egito, 1957; Cem Crônicas Escolhidas, 1958; Dora,
Doralina, 1975; galo de Ouro, 1986; Memorial de Maria Moura, 1992 e Tantos Anos, em colaboração com Maria Luíza de Queiroz.
TELHA DE VIDRO(Crônica)
Quando a moça da cidade chegou,
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha...
- Quem fez aquela casa foi seu bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...
A moça não disse nada;
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro;
queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda.
Tão claro que, ao meio dia, aparece uma renda
de arabescos de sol nos ladrilhos vermelhos
que apesar de tão velhos
só agora conhecem a luz do dia...
A lua branca e fria
também se mete às vezes pelo claro
da telha milagrosa...
- Ou alguma estrelinha audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia...
Que linda a camarinha ! E era tão feia!
Você me disse um dia dia
que sua vida era toda escuridão,
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Porque você não experimenta?
A moça não foi tão bem sucedida?
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
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