terça-feira, 16 de julho de 2013

Figuras folclóricas de Quixadá



Trabalhei no INSS durante muitos anos, sempre no atendimento ao público, convivendo com pessoas com as mais diferentes personalidades e de reações diversas quando buscavam soluções para seus problemas. Todos que procuravam atendimento, iam porque tinham algo para resolver, e eu tinha prazer em ficar conversando com meu cliente enquanto procurava solucionar seu caso. Escutava histórias incríveis, algumas de cortar o coração e fazerem as lágrimas molharem minha face, o que sempre procurava disfarçar. Como existe sofrimento, principalmente nas pessoas mais humildes... Dói demais quando escutamos o desabafo de alguém, sofrido, carente, sem perspectiva de uma vida melhor e constatamos que podemos fazer tão pouco, ou quase nada... por isso eu parava para escutar. Muitas vezes  tudo que eu podia fazer era pronunciar uma palavra de conforto ou mesmo calar e me limitar a dar um simples aperto de mão. Talvez naquele momento esse gesto simples até fizesse a diferença.
Com o passar do tempo foram aparecendo muitos segurados que pegavam uma senha, aguardavam a sua vez de serem atendidos por mim, querendo apenas conversar, desabafar um pouco, porque sabiam que, muito embora tivesse muita gente esperando na fila, eu o escutaria.
Um exemplo bem típico de tudo que relatei é o nosso Wellington Sandro, uma pessoa com distúrbios comportamentais,  sem família, mas que todo dia estava lá no INSS. Quando sentava em meu balcão de atendimento, começava a falar de sua vida, seus infortúnios, a falta que lhe fazia sua mãe e uma família. Na realidade tudo o que ele queria era um pouco de atenção. As vezes chegava agressivo, dizendo que ia matar um, mas sempre me tratou com muito respeito e carinho, pois via em mim uma pessoa amiga, que procurava ajudá-lo. Ainda hoje continua a frequentar o prédio do INSS, não sei se com a mesma frequência, pois agora estou aposentada, mas quando tirei essa sua foto, ele estava indo para lá.
Um fato inédito na vida do Wellington Sandro é que ele gostava muito de comprar as cartelas do Totolec e um dia foi contemplado com cinco motos. Deu todas elas e ficou sem nada. Disse que tinha dado porque as pessoas eram amigas dele. Quanta ingenuidade!!!
Em nossa caminhada pela vida, quantas vezes nos deparamos com pessoas angustiadas, querendo muito encontrar uma mão amiga, e em nossa pressa ou mesmo indiferença fingimos não perceber?
Costumo sempre acreditar que a vida nos dá de volta tudo o que plantamos, e se plantamos o bem, inegavelmente colheremos o bem. Um pequeno gesto, embora não pareça, pode ser um bálsamo na vida de alguém. Pense nisso.
                              Ângela Borges

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