José Antônio Pereira Ibiapina, nasceu em 1806, no povoado de São Pedro de Ibiapina, região de Sobral, filho de Miguel Ibiapina, um dos participantes da Confederação do Equador, fuzilados no Passeio Público. Após os acontecimentos de 1825, Ibiapina, órfão, recebeu ajuda de José Martiniano de Alencar e se dirigiu a Pernambuco, onde se bacharelou em direito.
Na década de 1830, foi eleito pelo Ceará deputado geral do Império (1834-37) e juiz de direito em Quixeramobim (1834-35). Sofreu, contudo, uma grande desilusão amorosa: a noiva, Carolina Clarence (filha de Tristão Gonçalves), com que planejava casar-se, o abandonou e fugiu com um primo.
Ibiapina começou a se desentender com o então presidente cearense, senador José Martiniano de Alencar, ao recusar-se a promover, como juiz, as perseguições políticas e pessoais pretendidas pelos liberais. Posteriormente, Antônio Ibiapina abandonou a magistratura e a política, decepcionado com as injustiças que presenciava.
Em 1938 passou a residir em Recife, dedicando-se à advocacia. Em pouco tempo se notabilizou na profissão, ganhando fama de defensor dos pobres. Levava uma vida reservada, profundamente católica.
Em 1853, aos 47 anos de idade, o sobralense decidiu dar novo rumo à sua vida e ordenou-se padre pelo Seminário de Olinda, trocando o sobrenome Pereira pelo nome de Maria, em homenagem à Virgem Mãe de Deus. Sensibilizado com o sofrimento dos humildes, passou a percorrer os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí, como missionário e realizando obras em mutirão – açudes, poços, cacimbas, capelas, igrejas, cemitérios – para atenuar o sofrimento e o abandono do povo do sertão nordestino.
Multidões escutavam e seguiam o pregador, os sertanejos consideravam Ibiapina um homem santo, atribuindo-lhe milagres e curas.
Uma das Casas de Caridade criadas pelo Padre Ibiapina, localizada no Crato, ao lado da Rádio Educadora do Cariri. Uma estátua homenageia e lembra o seu fundador (foto do Diário do Nordeste)
O padre construiu as famosas Casas de Caridade, que se destinavam a servir de escolas para as filhas de famílias ricas, de orfanato para as crianças mais pobres, e ainda de centro profissional e hospital. Criou também a Irmandade da Caridade, composta por mulheres leigas, beatas vestidas com hábitos e que faziam votos de castidade e pobreza, renunciando aos prazeres do mundo. Essas beatas trabalhavam nas casas de Caridade. Ibiapina acabaria entrando em rota de colisão com a alta cúpula da Igreja Católica.
As mudanças operadas na organização eclesiástica em decorrência da romanização afetaram o relacionamento entre os padres e os paroquianos no Nordeste. A igreja aumentou o número de dioceses, colocando-as sob a administração de sacerdotes paulistas, mineiros ou estrangeiros, elementos estranhos ao universo cultural e social dos sertões.
O Ceará foi uma área marcada profundamente pela romanização. A criação da diocese local em 1854 coincidiu com o período inicial de tal processo. No ano de 1861 foi nomeado o primeiro bispo da província, Dom Luís Antônio dos Santos. Este se voltou totalmente para a doutrinação romântica dos novos clérigos. Em 1864 fundou o Seminário da Prainha, em Fortaleza, chefiado pelos padres lazaristas franceses, uma ordem confiável e obediente ao Vaticano, que tinha entre outras funções, o controle do misticismo popular, que tinha então como figura máxima o padre Ibiapina.
Este acabou advertido pelo bispo D. Luís, sendo obrigado a entregar as Casas de Caridade e as Irmandades da Caridade ao controle episcopal, e a deixar o Ceará. Ibiapina foi para a Paraíba, onde continuou seus trabalhos missionários pelo Nordeste, até falecer naquela província, em 19 de fevereiro de 1883.
Suas práticas marcaram profundamente os corações sertanejos e influenciaram outras importantes lideranças religiosas, como Padre Cícero e Antônio Conselheiro.
Fonte:
História do Ceará, de Aírton de Farias
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