Sim, essa é a mais pura verdade, antes de ser roubada, ela era apenas mais uma pintura
No mês de dezembro de 2013, completou-se um
século desde que a Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci, voltou a seu lugar no Museu
do Louvre em Paris, depois de uma ausência de dois anos. O roubo da obra-prima
italiana solidificou seu status como a pintura mais famosa do mundo.
No entanto, o homem que a roubou, Vincenzo
Peruggia, não era o ladrão engenhoso que aparece em tantos filmes de
Hollywood.
Ele conseguiu entrar no Louvre e sair com a
pintura de Da Vinci com o mínimo de preparação, mas o feito causou sensação e
criou um ícone. O roubo aconteceu em uma segunda-feira, no dia 21 de agosto de
1911, um dia em que o museu estava fechado. A ausência do quadro só foi notada
na terça-feira. A polícia começou uma investigação e o centro permaneceu fechado
durante uma semana em meio ao escândalo.
"La Joconde" (A Gioconda) - como os franceses
chamam a Mona Lisa - desapareceu por mais de dois anos e foi recuperada em 10 de
dezembro de 1913, quando Peruggia foi capturado ao entregar a obra a Alfredo
Geri, um vendedor de antiguidades de Florença, na Itália.
Segundo o historiador da arte americano Noah
Charney, autor do livro Os roubos da Mona Lisa, este foi o primeiro delito
contra a propriedade a receber a atenção da mídia internacional.
- Celebridade
Jornais
inventaram histórias sobre o quadro para manter interesse de leitores |
É fácil assumir que o incidente causou tal
sensação porque a Mona Lisa era "a pintura mais famosa do mundo", mas naquele
momento, ela não era. O que realmente a catapultou para a fama foi o
roubo.
A cobertura midiática que ela teve durante o
tempo em que esteve perdida foi o principal motivo de sua fama mundial. Antes
disso, muita gente nunca a tinha visto.
"A imagem começou a aparecer em noticiários
cinematográficos, caixas de chocolate, postais e anúncios publicitários. De
repente, ela se transformou em uma celebridade como estrelas de cinema e
cantores", escreveu o escritor britânico Darian Leader, autor do livro Roubando
a Mona Lisa: o que a arte não nos deixa ver.
Multidões passaram a ir ao Louvre só para ver o
espaço vazio onde o pequeno retrato da mulher do século 16 costumava
estar.
Antes disso, o Louvre já tinha muitas obras de
destaque, como a estátua Vênus de Milo, a pintura "Liberdade Guiando o Povo", de
Eugène Delacroix, e o quadro "A balsa de Medusa", de Théodore Géricault. Mas
após o roubo, a Mona Lisa conquistou uma fama única.
O furto tornou-se assunto de Estado e despertou
discussões apaixonadas na mídia francesa.
Segundo o jornalista francês Jerome Coignard,
autor do livro Uma mulher desaparece, uma vez que os jornais franceses
descreveram as circunstâncias do roubo, não tinham mais o que dizer. Por isso,
começaram a inventar histórias sobre o quadro, como a de que Leonardo Da Vinci
teria se apaixonado pela modelo.
A polícia seguiu muitas pistas sem sucesso. O
poeta vanguardista Guillaume Apollinaire chegou a ser preso por uma semana e seu
amigo, o pintor espanhol Pablo Picasso, também foi suspeito do roubo. Ambos eram
inocentes.
- Não foi tão difícil
Polícia chegou a suspeitar do pintor espanhol Pablo Picasso |
Apesar da fama, a verdade é que o ato
aparentemente espetacular do ladrão não necessitou de nenhum plano
grandioso.
O museu tinha um sistema de segurança duvidoso
e poucos guardas. De fato, o trabalho que se fazia para melhorar a má segurança
das obras foi o que inspirou Peruggia.
O italiano havia trabalhado no Louvre em 1910 e
instalado pessoalmente a porta de vidro que protegia a obra-prima. Ele ainda
tinha o uniforme branco que os empregados do museu usavam e sabia como a pintura
estava presa.
"Todos estes conhecimentos se juntaram quando
ele teve uma oportunidade", diz Charney.
Após sua captura, Peruggia alegou que sua
motivação era patriótica - ele teria pensado que Napoleão havia roubado a
pintura da Itália e que sua missão era levá-la de volta para casa. Ele estava
enganado. O quadro havia sido comprado pelo rei francês Francisco 1º no século
16, por uma quantia considerável de dinheiro.
Como imigrante italiano, Peruggia também
argumentou que havia sido vítima de racismo por parte de seus colegas franceses.
No entanto, segundo Noah Charney, ele havia feito uma lista de colecionadores de
arte americanos, o que indicava que ele tinha planos de vender a obra.
- Esquecimento
Obra-prima
de Da Vinci permaneceu famosa, mas ladrão foi esquecido |
Há outras hipóteses sobre os motivos do ladrão,
mas até hoje a verdadeira razão permanece um mistério.
Peruggia não era um conhecedor de arte. Parte
do motivo pelo qual ele escolheu a Mona Lisa era o seu tamanho pequeno: o quadro
mede 53 por 77 centímetros.
Desde do retorno do quadro ao Louvre, pessoas
de todas as partes do mundo vão visitar a Mona Lisa mas, segundo Coignard, este
pequeno e íntimo retrato requer calma e tempo para ser realmente
apreciado.
É por isso que poucos realmente "vêem" a
pintura; o que importa é estar ali e poder dizer que a viram, avalia o escritor
francês.
Apesar do mito, o ladrão foi rapidamente
esquecido depois de capturado, especialmente por causa da Primeira Guerra
Mundial, que começaria no ano seguinte, 1914.
"As pessoas pensam nele como alguém
extravagante e adorável, que se apaixonou por uma obra de arte e que não a
danificou", diz Charney.
Fonte: BBC
BRASIL
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