ALCOÓLATRAS ANÔNIMOS
João
Eudes Costa
Geralmente
julgamos que somente os abastados, possuidores de muito dinheiro e detentores de
grande patrimônio, dispõem de meios para amparar e fazer algo em benefício dos
outros.
Pensamos
assim porque sempre admitimos ser as contribuições materiais, especialmente as
expressas em dinheiro, únicas capazes de socorrer e tirar alguém
das dificuldades.
Assistindo
às reuniões de um grupo de Alcoólatras Anônimos, ficamos conscientes de que
qualquer pessoa, por humilde e pobre que seja, terá condição de socorrer e
amparar irmãos em apuros. Ficamos convictos de que a esmola que muitas vezes
damos, representada por trocados que até nos incomodam conduzi-los, e que
entregamos com aquele ar de superioridade, na realidade, nada
vale.
Para tornar
público a nossa generosidade, pomos dinheiro nas mãos estendidas que suplicam
ajuda, sem sequer olhar para o rosto o pedinte e escutar seu desabafo de
sofrimento e dor. Tal indiferença revela nossa pobreza de espírito ao julgar que
o dinheiro resolve todos os problemas da miséria
humana.
A
verdadeira doação, aquela que dignifica quem oferta e alegra o que recebe, deve
ser retirada de nosso interior, do mais sagrado de nossos sentimentos de
solidariedade. Só é válida quando dividimos com quem necessita o muito que temos
no coração para ofertar, quando o fazemos com desvelo, com os olhos na imagem e
nos ensinamentos de Cristo.
O grupo de
Alcoólatras Anônimos revela este exemplo, demonstrando, na prática, o tanto que
podemos ser úteis, quando nos dispomos a servir com toda a força do
amor.
Nas
associações, nos clubes organizados numa sociedade, os integrantes são
escolhidos pelos seus valores extrínsecos. Vale a aparência, importância da
família, sem se falar no posicionamento financeiro, sem o qual as falhas não são
acobertadas.
Para se
pertencer a um grupo de Alcoólatras Anônimos não é exigida nenhuma qualidade
especial. Pode ser rico ou pobre. Trabalhador do salário mínimo ou funcionário
de destaque de altos salários. A cor nem a raça interessam.
Nenhuma influência política é capaz de fazer
diferença ou conceder privilégios de qualquer espécie.
Nas
reuniões dos clubes sociais, quase sempre, os sócios recebem homenagens e suas
virtudes enaltecidas, porque quanto mais famoso o sócio maior é o prestígio,
destaque e conceito do clube a que pertence.
Numa
reunião de um grupo do AA o importante é o visitante, o irmão carente e sofredor
que busca ali cura para a terrível doença do alcoolismo. Na cabeceira da mesa
ninguém ressalta seus diplomas, seus pendores pessoais a importante função
pública ou política que exerce.
Na presença
de todos, rasga a vestimenta vistosa de sua aparência impoluta e passa a narrar
toda a maldade que praticou, quando dependente da bebida, vítima do
alcoolismo.
Retalha a
sua imagem, abrindo as portas de seu passado, para que o companheiro que
escuta adentre no seu interior e veja, por dentro, o estrago e a
erosão que o alcoolismo é capaz de fazer. Tem a humildade para revelar tudo de
errado que fez, embora não se julgue curado, dizendo-se sempre um doente em
recuperação. Para o integrante do grupo do AA não importa que a sua imagem
aparentemente imaculada seja enodoada pela miséria de seu passado. Muito mais
importante para ele é que seu exemplo de reconquista, a sua força
de vontade sirvam de espelho ao irmão que está em busca da
recuperação.
Mesmo sem
jamais ter ingerido bebida alcoólica, é importante sempre comparecer as reuniões
do A. A. Descobrimos que mesmo sem beber vivemos embriagados pela vaidade, pela
arrogância e pela falta de solidariedade com o próximo. Conscientizamo-nos de
que não conseguimos felicidade, nem construímos o edifício do bem-estar, se, do
lado de fora, caído na valeta de nossa calçada, deixamos alguém que julgamos
irrecuperável, vencido para sempre e nada fazemos para levantá-lo e convidar
para que venha residir conosco na verdadeira paz e convivência
fraterna.
Há poucos
dias o grupo Monólito do AA de Quixadá completou 17 anos de atividade. Foi uma
festa bonita, não pela presença de convidados especiais, nem pela suntuosidade
do ambiente. Bela porque a felicidade era visível no rosto dos que se abraçavam
com fervor, agradecidos por mais um dia de sobriedade. Ali se comemorava a força
da união, mostrando o valor de uma sociedade afetuosa, unida e o grande
potencial que Deus nos concede, quando, irmanados, dedicamos nossa vida à
prática do bem.
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