A SAUDADE É A SOMBRA
DO AMOR
João Eudes
costa
Na longa caminhada da vida
temos muitos companheiros, mas poucos se tornam verdadeiros amigos. No início da
jornada há grande expectativa naquilo que vamos encontrar. Nossos pais alimentam
a alegria, falando de tudo de bom que iremos encontrar nas próximas
paradas.
Quando enfrentamos os
primeiros percalços, verificamos que nem tudo vai ser apenas contentamento. Em
cada estação assistimos à lamúria de quem se despede dos que amavam e que
ficaram naquela parada para sempre.
Enquanto não sentimos a dor
da separação, ignoramos que estamos de prontidão para substituir alguém na
vigília das lágrimas. Quando nossos pais, irmãos, parentes e amigos também
desembarcam para sempre nas estações da vida, a dor, a saudade e a solidão
ensinam-nos valorizar aqueles que oferecem o ombro para acolher nossa dor com
carinho e solidariedade, enxugando as lágrimas que teimam em retirar a poeira da
saudade.
Os Cirineus que ajudam a
carregar o nosso pesar são os amigos com quem poderemos contar até o fim da
jornada. Se algum deles parte sem sequer se despedir, os seus atos, fraternidade
e carinho ficam escritos, para sempre, no livro da história de nossa
vida.
Há poucos dias, Quixadá,
representada em todas as camadas sociais, ficou consternada com a inesperada
partida de Dr. Antônio Moreira Magalhães, que, na sua vida fez de cada
companheiro um amigo. Tive o privilégio de ser um deles. O nosso encontro era
alegre e fraternal. Abraçava-me com tamanha lealdade que eu ficava sem saber se
o que pulsava era o meu ou o seu coração. Sempre tinha histórias para contar, a
fim de nos fazer gargalhar e esquecer as agruras da vida.
Fiquei triste e não contive
a emoção ao saber de sua partida. Não sei se por covardia, fraqueza ou por falta
de estrutura para enfrentar grandes e penosas comoções, não tive coragem de
vê-lo inerte em seu ataúde. Não suportei ter a certeza de sua partida. Preferi
alimentar a ilusão de encontrá-lo numa das curvas de minha caminhada, para
reviver os momentos felizes que passei a seu lado.
Ninguém poderá fugir à
chegada na parada final da jornada que empreendemos na terra. Por isso, Maria
Laura, Ciro, Gisele, Fabíola e Aida, familiares e amigos, mesmo sem a companhia
de Magalhães temos que continuar a peregrinação neste mundo. Com fé que Jesus
guiará nossos passos, não devemos parar, olhando para trás, esperando,
inutilmente, que ele volte a nos acompanhar. Com a permissão Divina estará,
espiritualmente, ao nosso lado, como estrela guia nos mostrando o melhor
caminho.
Deixemos que as lágrimas
percorram nossos rostos. Não devemos escondê-las nem tentar retirá-las, pois são
as mãos de Magalhães a nos acariciar, confortando-nos e recomendando resignação,
dando-nos forças para aceitar os sábios desígnios de Deus. Essas lágrimas são
orvalhos da saudade que marcarão o caminho que haveremos de percorrer, caindo
sobre nossas pegadas, para que Magalhães nos siga para enxugar o pranto de todos
nós.
As crianças que o médico
dedicado recebeu do céu em seus braços, com a missão de semear o amor. Os jovens
que o médico professor ensinou a palmilhar o caminho que os conduziu às
gloriosas conquistas. Os idosos que o médico caridoso amparou, confortou e
amenizou os tropeços da velhice, muitos deles também já partiram. Com certeza no
éden celestial comemoraram a chegada ali de Antonio Magalhães, ofertando-lhe
flores do mais belo colorido, representativas da fraternidade, da caridade e do
amor.
Descanse em paz, querido
amigo, a sua missão foi gloriosamente cumprida. A sua imagem jamais desaparecerá
de nossas retinas, fazendo-o permanecer, para sempre, em nossos
corações.
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