O EXERCÍCIO DA PREGUIÇA
Bruno Paulino
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Ando cansado. E olha que tenho bem menos da metade de minha vida útil ocupada, mas pelo que vejo por aí (e isso me conforta), não sou só eu, toda essa gente de vinte e poucos anos anda se cansando muito. Não me arrisco dizer que estão se cansando fácil, por que não posso mensurar as experimentações alheias, já que sempre que me ponho a pensar nessa questão acabo por confundir cansaço com preguiça, e no fim das contas acho que tenho muito dos dois e creio ser assim com toda essa gente.
Dizem que o homem é o exercício que faz. Como não sou nenhum Macunaíma a ponto de bocejar “Aí, que preguiça!” para acabar com o cansaço resolvi ir fazer uma caminhada, dar duas ou três corridinhas para encher e esvaziar os pulmões de ar, que nem sempre são tão puros. Não sou o que se pode chamar de um atleta, também não entendo como fazer alguma atividade física pode me livrar do cansaço. Acho que vi isso na televisão e quis comprovar a tese, então, calcei o surrado tênis, selecionei e coloquei algumas músicas relaxantes no Mp3 e fui para rua caminhar sem lenço e sem documento.
A rua é um labirinto povoado pela multidão. Chego no calçadão de pedestres e com poucos minutos de corrida já estou exausto, a respiração começa a faltar. RESPIRA devagar homem. Organiza a Respiração. Penso com meus botões desabotoados, de repente me lembro de Nelson Rodrigues “O brasileiro é um feriado”. Só me preocupo com as coisas inúteis. Quero abandonar a corrida e voltar para casa, assistir deitado desenho animado, comendo pipoca com guaraná enquanto o sono não vem. Respiro as incertezas do caminho. Respiro o tédio. Chega uma hora na corrida que, de tanto esforço, desligo o Mp3 e faço questão de encarar o barulho solitário do meu corpo pisando no chão com sofreguidão. Inicio o caminho de volta. Fico feliz como se tivesse ganho a São Silvestre, sigo com a certeza de que amanhã me dedicarei mais a preguiça.
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