sábado, 7 de setembro de 2013

Um Palácio para a Cultura

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Escrito por Natália Pesciotta

Ela renasceu das cinzas, foi esquecida no porto na correria da fuga da família real, atravessou o oceano e aqui se transformou na oitava maior biblioteca do mundo – um tesouro com mais de nove milhões de volumes, repleto de grandes e pequenas histórias sobre o Brasil e a humanidade.

Foi das cinzas que nasceu a biblioteca da família real portuguesa – a mesma que veio parar no Brasil e deu origem à maior coleção de livros da América Latina e a oitava maior do mundo. Em 1755, um terremoto em Lisboa provocou um incêndio que arruinou as obras. A coleção então foi remontada com esmero. Era o grande xodó de dom João. Tanto que, mesmo na apressada transferência da família real para o Brasil, praticamente uma fuga, o imperador expediu um decreto ordenando que a biblioteca viesse com ele já na primeira esquadra.

Na confusão da partida, porém, as caixas acabaram esquecidas no porto. O único “livro” que veio naquela leva e até hoje está na Biblioteca Nacional é um calhamaço de folhas amareladas: a desordenada Listagem das Pessoas e Naus que Saíram de Portugal em 1807.

Os livros mesmo só chegaram ao Rio de Janeiro três anos depois de dom João e sua turma. Eram 60 mil volumes. Por falta de maior planejamento, ficaram armazenados na sala do hospital de um convento. O frei Camilo de Monserrate, então diretor da biblioteca, insistiu com dom João que o local não era apropriado: “Os bastimentos do antigo hospital dos Carmelitas não são nem vastos, nem claros, nem salubres para oferecer uma situação de segurança para as coleções e um uso cômodo do público nas condições desejáveis”.

O imperador então autorizou uma construção para a Real Biblioteca onde antes ficavam as catacumbas dos religiosos. A data em que as obras e objetos foram para lá, 24 de outubro de 1811, ficou marcada como Dia Nacional do Livro. Quando, pressionado por seus conterrâneos, dom João voltou para Portugal, tratou de acalmar a população brasileira: “Deixo aqui a minha biblioteca e meu filho”.

Depois da Independência, a Imperial Biblioteca passou a ter prédio próprio, que logo ficou pequeno, devido a doações e aquisições. No centenário da biblioteca, no Dia do Livro, ela ganhou nova casa. Durante 140 dias, um carro comum fez mais de 1.100 viagens para levar cerca de oito mil caixas e outros volumes para a avenida Rio Branco, onde estão até hoje. Nas palavras do historiador Arno Wehling, é um verdadeiro “palácio da cultura”, que recebe cerca de três mil visitantes por mês.

Com o segundo centenário recém-completo, a biblioteca não para de crescer. São mais de nove milhões de volumes, entre acervo comum, obras raras, periódicos, manuscritos, documentos, iconografia e cartografia. Ela recebe as publicações produzidas no País inteiro, além de coleções cedidas por especialistas. Depois da Proclamação da República, trocou o “real” e “imperial” do nome por “nacional”. Parece pouco, mas muito significa: da propriedade de alguns, passou a ser de toda a população. Conheçamos, então, pequenas e grandes histórias desse nosso patrimônio.


Visitantes ilustres se embrenharam nessas estantes

Muitas personalidades fundamentais para a cultura brasileira foram frequentadoras de carteirinha da Biblioteca Nacional – e não é modo de dizer. Lá estão guardadas fichas de usuários como J. D’Alencar e Sebastião Bernardes de Souza Prata, mais conhecidos como José de Alencar e Grande Otelo. Pode-se saber, por exemplo, que Joaquim Maria Machado de Assis, aos 16 anos, retirou das estantes a revista de humor A Marmota e livros de história. Assim como ele, um pouco mais tarde, Lima Barreto só teve acesso à erudição por causa da biblioteca – no começo do século 20, livros eram artigos de luxo.
Fonte: www.almanaquebrasil.com.br

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