sexta-feira, 7 de junho de 2013

CALENDÁRIOS


      Foto de Paulo Segundo Da Costa.



   Pela falta de referenciais históricos confiáveis, existe dificuldade para um melhor conhecimento dos povos antigos quanto ao passado e ao tempo decorrido dos fatos marcantes de suas histórias. Os :antigos povos só se interessavam pelo tempo presente, ignoravam o conceito de passado e de futuro. À medida que conheciam os fenômenos da natureza com mais perspicácia e a melhor entendê-los, a alternância dia e noite; os períodos de inverno e de verão; as fases da lua; a época própria para a semeadura e colheita da safra; para pescar; para caçar, etc., começou a surgir o interesse para a fixação dos fatos em relação ao tempo em que ocorreram.
         O povo que desenvolveu a notável Civilização Maia, na região de parte da América Central e do México, tinha calendário duplo: o calendário litúrgico, regido pela Lua, com 260 dias anuais (13 meses de 20 dias); outro, regido pelo Sol, de 365 dias anuais, com 18 meses de 20 dias e o complemento de 5 dias para totalizar o ano. Este calendário destinava-se às atividades civis.
        Alguns povos contavam o tempo pela quantidade de noites decorridas a partir de um fato determinado; outros o contavam pela quantidade de períodos entre o amanhecer e o por do sol, isto é, entre a aurora e o crepúsculo. Alguns consideravam o início do dia a partir do cantar do galo. Como exemplo, há a referência contida no Evangelho de São Mateus (Cap.26,74-75): Antes que o galo cante, me terás negado três vezes”, isto é, antes que o dia amanheça. 
      Há outra referência explícita de que (na época de Cristo) os judeus contavam o período de 24 horas assim: dia (doze horas) a começar da aurora; noite (doze horas) a começar do por do sol. Narrando o episódio da morte de Jesus, o evangelista São Mateus diz: Desde a hora da sexta cobriu-se de trevas toda a terra; Cerca da hora nona, Jesus exclamou: Eli,Eli, lema sabactani”(Cap.27,45-46),ou seja, desde o meio dia até às 15 horas (três horas da tarde), de acordo com o horário que estabelece o início do dia a partir de meia noite (hora zero do dia), como determina a Convenção da hora GMT-Greenwich Mean Time. A Igreja Católica dá inicio à celebração litúrgica da morte de Jesus Cristo, sempre às 15 horas GMT, da sexta-feira da Semana Santa (horário correspondente à hora nona, referida no Evangelho.
       Foram os egípcios que convencionaram a divisão do período claro do dia em 12 horas e o da  noite também em 12 horas. Anteriormente, o tempo do nascer ao por do sol era de 10 horas, depois acrescentaram mais uma hora para o período da manhã e mais uma para o do tarde. No antigo Egito a vida do povo era regulada pelo rio Nilo, a tal ponto que a coroação de um Faraó dependia da cheia ou da vazante do rio. Para eles os fatos recorrentes contavam a passagem do tempo. Os anos eram numerados pelo período de cada Faraó; quando um novo faraó subia ao trono o calendário era iniciado com ano um da sua era. 
      Alguns povos da antiguidade adotavam as fases da Lua como cronômetro, a exemplo dos sumerianos, babilônicos e hebreus. Para os hebreus (judeus) um novo mês era iniciado quando a lua nova aparecia. O ano civil começava no equinócio do outono, entretanto, o seu ano eclesiástico tem início no equinócio da primavera, em face da determinação divina: “O Senhor disse a Moisés e a Aarão no Egito: Este mês será para vós o primeiro dos meses do ano. Falai a toda a comunidade dos filhos de Israel ...(Êxodo12,1-3). No calendário judeu, o ano 1 (um) é o que marca a criação do mundo por Jeová, fato que teria acontecido no ano 3.773 a C.. Em 2.000 d.C.os judeus de todo o mundo comemoraram o ano 5.773 do seu calendário, enquanto no calendário gregoriano, o dia 31 de dezembro do ano 2.000 encerrou o segundo milênio da era d.C. (depois de Cristo). 
      Na Babilônia, por volta do ano 750 a.C., teve começo o calendário babilônico com os meses baseados na Lua e o ano baseado no Sol. Esse calendário correspondia ao período de cada reinado. Para os seguidores de Maomé (maometanos), cujo Deus é Alá, o ano é lunar tem 354 dias (6 meses de 30 dias e 6 meses de 29 dias). O ano 1 (um) dos maometanos corresponde ao ano 622 d.C., ano da Hégira, quando Maomé fugiu de Meca para Medina, ambas situadas no território do atual país Arábia Saudita.     O ano novo começa no primeiro dia do moharrem, que difere do primeiro dia do ano do calendário gregoriano dos cristãos.
       O antigo calendário romano tem início em 753 a.C., ano da fundação da cidade de Roma. Esse calendário era muito confuso. Visando a permanecer mais tempo no poder, e, também, para cobrar mais impostos alguns governantes mandavam acrescentar a duração do ano, conforme aconselhasse o astrônomo contratado, a serviço do poderoso mandatário. Tinha 365 ou 366 dias: 6 meses de 31 dias, 5
meses de 30 dias e 1 mês de 29 ou 30 dias. O primeiro mês do ano era Marcius (31dias); Aprilis (30dias); Maius (31dias); Junius (30dias); Quintilis (31dias); Sextilis (30dias); September (30); October (31dias); November (30dias); December (31dias); Februarius (29 ou 30 dias, no ano bixesto); Januarius (31dias). 
          Os meses do calendário romano têm significados diversos: marcius (março) em louvor a Anco Marcius, rei de Roma; aprilis (abril), consagrado a Vênus; maius ou majus (maio), significa o maior; junius (junho) deriva do nome da família Június, muito importante na Roma antiga; quintilis a december, respectivamente 5, 6, 7, 8, 9 e 10; februarius (fevereiro), mês da purificação ou expiação; januarius (janeiro), homenagem ao deus Janus, de duas faces.
       Sobra esse calendário romano existem curiosas anedotas: uma diz que Numa Pompílio (2o.rei de Roma) mandou deslocar os dois últimos meses do final do ano (fevereiro e janeiro), para o começo do novo ano. Março deixaria de ser o seu primeiro mês; esse privilegia caberia ao mês janeiro, isto é o novo passou a ser iniciada pelo mês de janeiro, porque janeiro è homenagem ao deus Janos; deus de duas faces: uma voltada para trás, outra para frente. Janus não deveria ficar com a face voltada para o passado, olhando o pretérito (o último mês do ano era janeiro, mês doze) e sim começar o novo ano olhando à frente, para o futuro (janeiro passou a ser o mês um). Assim os meses doze e onze passaram a respectivamente: mês um (janeiro), seguido de fevereiro, mês dois. Daí a razão de os meses de setembro (derivado de sete) ser o mês 9; outubro (derivado de oito) ser mês 10; novembro (derivado de nove) ser mês 11 e dezembro (derivado de dez) ser mês 12, regra que permaneceu no calendário  gregoriano, vigente no mundo atual a partir, a partir de 1582. Outra anedota diz que o mês de fevereiro (mês 11 na antiga disposição anual do calendário romano), por ser o mês dedicado aos mortos, devia ter menos dias para morrer menos gente no ano. 
       Há também a anedota de que o Imperador Júlio César, no ano 46 a.C. mandou fazer correções no confuso calendário vigente. Novo calendário passou a ser conhecido como Calendário Juliano. Os bajuladores do Imperador alteraram a denominação do mês quintilis(5) para mês Julius (julho), em homenagem a Julio Cesar. No ano 44 a.C. Júlio César foi assassinado por seu filho adotivo Brutus. Sucedeu-lhe  o Imperador Caio Júlio César Otaviano Augusto, que ficou historicamente conhecido como César Augusto. Ocorreu, então, aos bajuladores de sempre, que o Imperador Augustus César deveria ter um mês do ano com seu nome; o mês sextilis (6), mês de nascimento do Imperador, passou a ser Augustus (agosto), e mais, como o Imperador César Augusto tinha tanto mérito, ou mais, quanto seu tio o Imperador Júlio César e era mesmo o representante de Deus. (Sobre o endeusamento de César Augusto, veja o romance histórico: “Augusto, o Imperador de Deus”, da autoria Allan Massie, editado pela Ediouro, R. de.Janeiro). Na avaliação dos puxa sacos de então, o mês em a César Augusto não poderia ter menos dias que o mês de Julius (31 dias). Para isso, foi retirado um dia do mês februarius (fevereiro) e incorporado ao mês sextilis, que tinha 30 dias e passou a ter 31, com nome de Augustus (agosto). O mês de fevereiro que tinha 29 ou 30 dias, ficou com 28 dias (ou 29, no ano bissexto).      
       O calendário cristão tem início no quadragésimo quarto ano do reinado de César Augusto, ano do nascimento de Cristo. No Evangelho de Lucas (Cap.2, vs.1-7), está dito: “Naquele tempo apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o  recenseamento de toda a terra. Esse recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, a cidade de Davi, chamada Belém por que era da família de Davi, para se alista com sua esposa Maria, que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias dela  E deu à luz seu filho primogênito e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles no hospedaria, nasceu Jesus”.
Esse calendário desde os primórdios do cristianismo fora adotado pelos cristãos, mas só passou a ser  oficial em Roma por volta do século quarto para a contagem inicial da era cristã, reconhecendo como ano um, o ano do nascimento de Cristo; no calendário cristão os séculos e os milênios terminam respectivamente nos anos 00 e 000 (séculos: 100, 200, 300; milênios: 1000, 2000) e não nos anos 99 e 999. O século XX e o segundo milênio d.C. só terminaram no dia 31 de dezembro do ano 2.000; o século XXI e o terceiro milênio começaram no dia 1 de janeiro de 2.001.                                                                        

A instituição da contagem do tempo a partir do nascimento de Cristo -era cristã – e a contagem das horas do dia a partir da meia noite, hora GMT, ainda não é adotado por todos os povos. A hora GMT é a hora legal estabelecida para a Inglaterra desde 1880, pelo Observatório Real de Greenwich, situado no Condado de Kent, próximo de Londres. O astrônomo inglês George Airy fixou o meridiano zero (hora zero do dia) em Greenwich. Em outubro
de 1884, houve em Washington a Conferência Internacional do Meridiano, com a participação de 25 países, inclusive o Brasil, e foi aprovado que o meridiano de origem (hora zero do dia) o que passa pelo Observatório de Greenwich. Com a invenção do rádio, da televisão e da rede mundial da Internet, a hora GMT já está praticamente universalizada. Em relação ao estabelecimento de horários e adoção de calendários, há um fato curioso, que merece ser transcrito, e é o que nos conta o professor inglês G. J. Whitrow,  no livro de sua autoria: O Tempo na História, pg.15: “Em 1916, quando o horário de verão foi introduzido pela primeira vez no Reino Unido da Inglaterra adiantando o relógio em uma hora, foram muitos os que se opuseram à interferência no que a famosa romancista Marie Corelli chamou de horário do próprio Deus. Assim também, em 1752, quando o governo britânico decidiu alterar o calendário de modo a fazê-lo coincidir com o que fora previamente adotado pela maioria dos outros países da Europa Ocidental, e decretou que o dia 2 de setembro deveria ser registrado como 14 de setembro, muita gente pensou que, com isso, suas vidas estavam sendo encurtadas Alguns trabalhadores acreditando de fato, que perderiam o pagamento referente a 11 dias, amotinaram-se, clamando:Devolvam nossos 11 dias. Houve amotinações e várias pessoas foram mortas nesse motim, deflagrado em Bristol”. A decisão do governo inglês de alterar o seu calendário, tinha por objetivo compatibilizá-lo com o calendário gregoriano; calendário  instituído no ano de 1582, pelo Papa Gregório XIII, com o principal objetivo de corrigir a defasagem que o Calendário Juliano criara para o fiel cumprimento do que fora aprovado, no ano 325, pelo Concílio de Nicéia, presidido pelo Imperador Constantino, ou seja, a determinação anual do domingo da páscoa. O Calendário Juliano foi instituído pelo Imperador Júlio César, no ano 707 do calendário romano (46 antes de Cristo), com 365,25 dias anuais; é um calendário solar. O calendário litúrgico cristão é lunar; composto de 52 semanas, correspondentes às 13 luas cheias do ano. O Concílio de Nicéia  decretou que a páscoa sempre será celebrada no domingo imediato à primeira lua cheia, após o equinócio da primavera (hemisfério norte). Por essa regra, a páscoa ocorrerá sempre entre os dias 22 de março e 25 de abril, e nunca coincidirá com a páscoa judaica. Como as fases do sol (calendário civil Juliano) e da lua (calendário litúrgico) não são coincidentes, por ocasião do Concílio de Trento (1545-1563) a defasagem, entre o dia da páscoa e o dia do equinócio da primavera, era de 10 dias. Por isso, a páscoa estava sendo celebrada antes da passagem do equinócio, isto é, não era comemorada após o dia 21 de março. Por determinação do Concílio de Trento, o Papa Gregório XIII nomeou uma Comissão de especialistas, dentre eles os astrônomos Clavius, Colombo e Luigi Gíglio e o matemático alemão Gauss, para determinar a correção do Calendário Juliano. Essa Comissão concluiu que o ano solar deveria ter a duração média de 365,2422 dias. Para cumprir então o que decretara o Concílio de Nicéia e fazer coincidir as estações de cada ano com as do ano 325, Gregório XIII, pela bula Inter- Gravíssimas de 4 de fevereiro de 1582, decretou que ao findar-se o dia 4 de outubro de 1582 o dia seguinte seria 15 de outubro, suprimindo 10 dias do Calendário Juliano.
                                                                   Paulo Segundo da Costa

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