segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Mensagem de saudade de um benfeitor quixadaense




João Eudes Costa
No início do ano de 1922 deixou nossa cidade, definitivamente, o Dr. Bernardo Piquet Carneiro, padrão de honra, espírito soberanamente respeitoso e acatado, levando, em sua bagagem, para o Rio de Janeiro, não riquezas aqui amealhadas, mas um coração repleto de saudade de uma cidade que ajudou a crescer e aprendeu a amar. Em sua companhia foi a quixadaense Adélia Barreira, esposa, com quem constituiu uma família ilustre, tendo como figura de destaque no esporte brasileiro o piloto de Fórmula 1 Nélson Piquet, seu bisneto, campeão mundial em competições automobilísticas, famoso não apenas no Brasil, mas respeitado e reverenciado no mundo inteiro.
Ao chegar ao Rio de Janeiro, tentando esvaziar um peito cheio de recordações, externou o seu amor a Quixadá, na carta dirigida ao Dr. Eusébio de Sousa, da qual, a seguir, transcrevemos alguns trechos: “Viajei através de grande parte do Rio Grande do Norte e igualmente desse Estado do Ceará e em parte alguma encontrei terreno de aspecto tão grandioso como o do vale do Sitiá ,onde está situada essa cidade.
Não sei se é este o sentimento de admiração, se é a amizade que me prende aos operários cearenses, meus melhores companheiros de vida, ou se a estima e saudade de amigos como foram D. Maurício e o Cel. Nanam, meu sogro, e ainda o é o Dr. Adolfo Siqueira Cavalcante, a verdade é que basta transportar meu pensamento a esse meio para que eu sinta confranger-se-me o enfraquecido coração e lágrimas irreprimíveis escurecerem-me a vista.
Quixadá deveria ser apenas o refúgio dos homens de coração bem formado e dos velhos que amassem a Deus pela contemplação da natureza. A cidade presta-se a ser facilmente saneada e mesmo embelezada, podendo para esse fim ser utilizado o próprio alto do Serro que a ladeia. A intendência aí possui um projeto, que foi entregue ao coronel Joaquim Costa Lima, para jardinar a praça principal (José de Barros). Pouco mais é do que um esboço; outros, porém, podem melhorá-lo.
D. Maurício, que era um espírito superior e um monge viajado, quando no Mosteiro de Santa Cruz, sentiu que a morte se aproximava, pediu que o levassem à beira do barranco donde se descortinava o grandioso e belo vale do Cedro. Pedro Borges, um homem de alma, não se cansava de exprimir a admiração que o empolgava, quando o levei ao alto do serrote em que se apoia a barragem austral.
Li, faz anos, um livro cujo título, se bem me recordo era: “A alegria da velhice” e ali se descrevia um recanto que bem podia ser reproduzido em Quixadá, sem prejuízo ao centro comercial, próximo à Estação, do Centro Industrial logo abaixo do açude e ficando no meio daquele o “Refúgio da Velhice”.
Lamentavelmente, um homem que se tornou quixadaense por amor a esta terra. Que tudo fez pelo seu progresso, que a defendeu de qualquer ameaça e jamais permitiu que fosse ultrajada, teve o seu nome retirado de uma das ruas de Quixadá. Desrespeito imperdoável da Câmara Municipal de Quixadá à memória daquele quixadaense de comprovados serviços prestados à nossa terra e a quem, mesmo à distância, comovia-se ao sentir que dela havia partido. O espírito luminoso de Dr. Bernardo Piquet Carneiro não conseguiu clarear a limitada mentalidade do poder Legislativo quixadaense, que , ignorando a honradez do homenageado, cometeu a indignidade de rasgar o seu retrato estampado numa das páginas gloriosas de nossa História.
Aquele engenheiro querido pelos cearenses, quixadaense de coração e padrão de honra e dignidade era fluminense de nascimento, veio para o Ceará em 1897 e aqui permaneceu por 15 anos. Em Quixadá constituiu família e identificou-se com nossa terra, envolvendo-se com seus problemas. Foi diplomado bacharel em Ciências Físicas e Matemática a 10 de junho de 1887 pela Escola Central da Corte (depois Escola Politécnica do Rio de Janeiro). Fez iniciação profissional no Rio Grande do Sul, na Estrada de Ferro de Porto Alegre e Uruguiana. Ali exerceu sucessivamente as funções de Condutor Técnico, Chefe de Seção, Primeiro Engenheiro e Engenheiro Diretor. Deste último posto, em abril de 1897, foi transferido para a Estrada de Ferro de Baturité. Reorganizou a referida empresa, preparando-a para o arrendamento a particulares, o que ocorreu em maio de 1898.


Em 1899 foi nomeado Engenheiro Chefe da “Comissão do Açude de Quixadá.” Na Inspetoria de Obras Contra as Secas (IFOCS) sua gestão durou 10 anos, isto é, até 1909. Faleceu no Rio de Janeiro em 31 de outubro de 1936.

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