domingo, 26 de janeiro de 2014

VISITA DE AFONSO PENA A QUIXADÁ-CE


VISITA DE AFONSO PENA
Em 15 de junho de 1906 visitou o Cedro o então presidente Afonso Pena. Ao percorrer a parede, acompanhado por seu secretário particular, Intendente de Quixadá Luiz Lavor Paes Barreto, do vigário da paróquia Antônio Lúcio Ferreira, do Juiz de Direito da Comarca Álvaro Gurgel de Alencar, Presidente do Estado, Antônio Pinto Nogueira Accioly e dos engenheiros da “Comissão de Açudes” Dr. Piquet Carneiro e seu auxiliar Dr. Tomaz Pompeu Sobrinho, sua Excia. Presidente da República fez o seguinte comentário, dirigindo-se ao Dr. Piquet Carneiro: “a finalidade desta obra não justifica o emprego dos dinheiros públicos em tão luxuoso acabamento”. Este comentário causou a Piquet Carneiro uma certa frustração. Esperava, com certeza, que Afonso Pena fizesse elogios à obra e ressaltasse o esmero do acabamento. Esperava, também, que o Presidente demonstrasse entusiasmo por ver, naquela barragem, o início de um programa capaz de solucionar ou pelo menos minimizar os catastróficos efeitos das grandes estiagens.
O dedicado engenheiro que via no Cedro uma luz que marcava novos rumos para a agropecuária da região e a certeza de que Quixadá jamais assistiria ao triste espetáculo de homens famintos, em currais de arame. Acreditando, Dr. Piquet Carneiro, que o termo pejorativo de “curral da fome” estava riscado da história de Quixadá, recebeu, com revolta, embora em silêncio, o infeliz pronunciamento do Chefe da Nação.
O Secretário de Afonso Pena, com o intuito de agradar o Presidente, desejando reforçar a tese de que os gastos poderiam ser menores, indagou a Piquet Carneiro: “ Doutor por que esta parede não foi feita em linha reta, o que forçosamente diminuiria o gasto? ”
Piquet Carneiro, que estava abafado com as críticas do Presidente e que por questões óbvias não quis responder, aproveitou a oportunidade para desabafar: “Pela pergunta de V. Excia. concluo que não se trata de um engenheiro ou técnico no assunto. Sendo, porém, um Secretário do Governo deveria ter mais informações acerca da obra visitada e da sua importância para a região.
Esta resposta já dei a muitos de meus operários, porque a eles admitia tal desconhecimento, pois são homens sem instrução. Apenas digo a V. Excia. que a importância desta obra não pode ser avaliada pelo valor de RS 4.650.895$000 gasto em sua construção. Representa isto sim, um marco para o desenvolvimento social e econômico para a região, que não pode ficar, por todo tempo, esmolando favores, sem trabalho, sem lar e sem destino.”
Ao chegar em casa, ainda decepcionado com o pronunciamento de Afonso Pena, Piquet Carneiro disse a sua esposa Adélia: “Pode arrumar nossa bagagem que vamos sair daqui. Pelo que eu disse ao Secretário do Homem, irei ser demitido da Chefia do Serviço ou, no mínimo, transferido de Quixadá.” Ainda bem que nada aconteceu e por mais alguns anos Piquet Carneiro permaneceu em nossa terra, dando exemplo de honradez, dedicação ao trabalho e amor a Quixadá e sua gente.
Talvez se preparando para entregar a chefia da Comissão ou ainda indignado com o parecer do Presidente da República que considerou o Cedro uma obra de alto custo, Piquet Carneiro fez um circunstanciado relatório, endereçado ao Ministro da Indústria, contendo uma resenha geral da despesas efetuadas.
Quis demonstrar que foram imprescindíveis os gastos feitos numa obra construída no sertão nordestino, com dificuldade de transporte e longe dos centros industriais. Além de outros detalhes, explicou que a importância gasta na construção do açude não exprime o preço exato da obra propriamente dita em épocas normais. A construção serviu, também, de amparo aos flagelados de 9 anos de seca (1888, 1889, 1890, 1891, 1898, 1900, 1902, 1903 e 1905) registradas em 22 anos, período de construção do Cedro.
Fonte: Livro Retalhos da História de Quixadá - Autor: João Eudes Costa

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