Arqueologia de um cinema
Em meio às obras de reforma do Cine São Luiz, surgem preciosidades da arquitetura do prédio e da memória de quem viveu seus tempos áureos
Há quem percorra a Praça do Ferreira e nem note os tapumes. Mas ali, no centro comercial da cidade, um dos prédios mais importantes de Fortaleza começa a renascer. É o Cine São Luiz, fechado há quatro anos, que passa por reforma desde dezembro. Além de devolver vida ao cinema, as obras revelam detalhes do prédio histórico desgastado pelo tempo e pela falta de uso.
José Rufino da Silva, o Pirrita, engraxate que viu o prédio ainda em construção, não sabe precisar detalhes da arquitetura, mas lembra bem que “o São Luiz foi feito um dos melhores do Ceará e do Brasil em tudo. Em tamanho, em boniteza, em luxo”. Mesmo trabalhando aos pés do cinema, ele conta 38 anos que não entra no lugar cuja inauguração viu de perto – mas da qual não participou. “Não estava presente no meio dos homens porque só eram as grandes personalidades da cidade. O primeiro dia foi só para convidados”, diz.
Dias depois, Pirrita pode ver o piso em mármore carrara no saguão principal, as escadas imponentes com corrimões banhados em bronze dando acesso ao foyer, a mistura dos estilos neoclássico e arte déco nas paredes e no teto do interior do prédio e, claro, o filme Anastácia, primeiro a ser exibido. “O terceiro dia foi pra pobre. Aí eu tive de pedir um paletó emprestado, porque só entrava de paletó. Mas na época todo motorista usava, então consegui fácil”, lembra.
Restauro
Quando o São Luiz abrir de novo suas portas, não será preciso terno para os homens nem longos vestidos para as mulheres. Ainda assim, o glamour do prédio – projetado originalmente por Humberto da Justa Menescal, em 1939 – deve continuar. É que, além de cinema, o espaço funcionará como teatro, e os detalhes originais da arquitetura, vistos em 1958, serão conservados.
Para o teatro, um palco italiano maior que o do José de Alencar será construído atrás da tela de projeção retrátil. Segundo Paulo Renato Cavalcante, um dos engenheiros responsáveis pela obra, o espaço, desconhecido dos frequentadores do São Luiz, nunca fora utilizado. No lugar, havia escritórios de entidades que já ocuparam o prédio, como o Banco do Nordeste e o Sesc. A primeira etapa da reforma se concentrou em demolir essas salas e revelar o espaço que deve receber grandes espetáculos de teatro e dança, além das sessões de cinema.
Tombado em 1991 pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult), o prédio passará apenas por intervenções pontuais. “O que vai ser acrescido é a parte de iluminação cênica, que nunca existiu porque nunca se usou como teatro”, diz Paulo Renato. Também serão construídos camarins e um elevador que dê aos artistas acesso direto ao palco.
A fachada será mantida como antes, bem como o mármore das escadas, que passará por alguns reparos. Também serão preservados os estilos arquitetônicos, as plaquinhas antigas de “proibido fumar”, os detalhes em madeira, os espelhos do foyer e até os tons que dão a cor do prédio por dentro. “Nós vamos fazer uma prospecção dessa tinta e levar a um químico pra ele reproduzir”, conta o engenheiro.
A capacidade de 1.500 lugares também permanecerá, mas as cadeiras antigas, que já não são as originais, serão doadas para instituições cadastradas na Secult. Conforme o engenheiro da secretaria, a intenção é recuperar os primeiros assentos do São Luiz, que estariam num cine de rua na periferia de Fortaleza, e formar a primeira fila com cadeiras originais. Um velho projetor, que ainda hoje está lá e já não serve aos dias atuais, deve ser reunido com outros objetos num memorial que contará a história da sala.
A previsão “otimista” de entrega da obra é agosto, segundo Paulo Renato Cavalcante.
Fonte:http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2014/02/11/noticiasjornalvidaearte,3204652/arqueologia-de-uma-cinema.shtml
José Rufino da Silva, o Pirrita, engraxate que viu o prédio ainda em construção, não sabe precisar detalhes da arquitetura, mas lembra bem que “o São Luiz foi feito um dos melhores do Ceará e do Brasil em tudo. Em tamanho, em boniteza, em luxo”. Mesmo trabalhando aos pés do cinema, ele conta 38 anos que não entra no lugar cuja inauguração viu de perto – mas da qual não participou. “Não estava presente no meio dos homens porque só eram as grandes personalidades da cidade. O primeiro dia foi só para convidados”, diz.
Dias depois, Pirrita pode ver o piso em mármore carrara no saguão principal, as escadas imponentes com corrimões banhados em bronze dando acesso ao foyer, a mistura dos estilos neoclássico e arte déco nas paredes e no teto do interior do prédio e, claro, o filme Anastácia, primeiro a ser exibido. “O terceiro dia foi pra pobre. Aí eu tive de pedir um paletó emprestado, porque só entrava de paletó. Mas na época todo motorista usava, então consegui fácil”, lembra.
Restauro
Quando o São Luiz abrir de novo suas portas, não será preciso terno para os homens nem longos vestidos para as mulheres. Ainda assim, o glamour do prédio – projetado originalmente por Humberto da Justa Menescal, em 1939 – deve continuar. É que, além de cinema, o espaço funcionará como teatro, e os detalhes originais da arquitetura, vistos em 1958, serão conservados.
Para o teatro, um palco italiano maior que o do José de Alencar será construído atrás da tela de projeção retrátil. Segundo Paulo Renato Cavalcante, um dos engenheiros responsáveis pela obra, o espaço, desconhecido dos frequentadores do São Luiz, nunca fora utilizado. No lugar, havia escritórios de entidades que já ocuparam o prédio, como o Banco do Nordeste e o Sesc. A primeira etapa da reforma se concentrou em demolir essas salas e revelar o espaço que deve receber grandes espetáculos de teatro e dança, além das sessões de cinema.
Tombado em 1991 pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult), o prédio passará apenas por intervenções pontuais. “O que vai ser acrescido é a parte de iluminação cênica, que nunca existiu porque nunca se usou como teatro”, diz Paulo Renato. Também serão construídos camarins e um elevador que dê aos artistas acesso direto ao palco.
A fachada será mantida como antes, bem como o mármore das escadas, que passará por alguns reparos. Também serão preservados os estilos arquitetônicos, as plaquinhas antigas de “proibido fumar”, os detalhes em madeira, os espelhos do foyer e até os tons que dão a cor do prédio por dentro. “Nós vamos fazer uma prospecção dessa tinta e levar a um químico pra ele reproduzir”, conta o engenheiro.
A capacidade de 1.500 lugares também permanecerá, mas as cadeiras antigas, que já não são as originais, serão doadas para instituições cadastradas na Secult. Conforme o engenheiro da secretaria, a intenção é recuperar os primeiros assentos do São Luiz, que estariam num cine de rua na periferia de Fortaleza, e formar a primeira fila com cadeiras originais. Um velho projetor, que ainda hoje está lá e já não serve aos dias atuais, deve ser reunido com outros objetos num memorial que contará a história da sala.
A previsão “otimista” de entrega da obra é agosto, segundo Paulo Renato Cavalcante.
Fonte:http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2014/02/11/noticiasjornalvidaearte,3204652/arqueologia-de-uma-cinema.shtml
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