Um bilhetinho para Rachel de Queiroz.
Querida Rachel de
Queiroz,
Sou apenas mais um dos muitos desse vasto mundo que admiram o seu
trabalho como escritora, e, sente vontade de lhe escrever de vez em quando.
Tenho lido bastante suas crônicas, e, de certo modo me apoderado do seu olhar
sobre a vida para construir o meu.
Os dias têm sido longos, se arrastando.
Sinto saudades suas, mesmo sem ter lhe conhecido. É
algo assim, se é que dá para entender. Acho até que saudade não tem explicação,
a gente tem mesmo é só que sentir e pronto, e confesso que gosto de sentir
saudades suas porque sempre acabo por lembrar-me de minha avó, de quem também
sinto saudades, creio que assim como você disse numa crônica “até as coisas
negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto”. E
convenhamos nem toda saudade é negativa. Tem saudade que é gostosa de
ter.
Hoje me lembrei de você por outra coisa, por uma coisa triste, por isso mando-lhe esse bilhetinho. Não gosto de escrever coisas tristes, mas a situação
pede, pois acontece que alguns vândalos que infelizmente não sabem de sua
importância para a cultura brasileira, arrancaram os óculos de sua estátua.
Estátua está recém-inaugurada na praça da cultura da cidade de Quixadá. Quixadá
cidade que você tanto amou. Que abriga sua fazenda, sua terra. Sua “Não me
deixes”.
A noticia é triste, não queria lhe tirar o sossego com isso. Tenho
um pedido. Peço: “perdoai, eles não sabe o que fazem”. E perdoai-me também, pois confesso que fiquei angustiado com isso e só me restou escrever-lhe com essa
história que talvez venha aborrecê-la. Mas como ia dizendo, eles não sabem do
poder de ler um livro seu deitado na boa rede sertaneja, num alpendre em um
domingo azul qualquer refrescado pela brisa de um límpido açude tornando
possível o prazeroso encontro contigo, em cada linha do que escreve,
encontro mediado pelas palavras, essas porta-vozes silenciosas, mas
inquietantes. E assim como Manuel Bandeira, ao invés de surrupiarem seus óculos
eles se colocariam a louvar Rachel de Queiroz. Louvar sua lembrança.
Bruno Paulino
Quixeramobim- CE
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