terça-feira, 13 de agosto de 2013

Que Saudades de Meu Pai... João Eudes Costa




QUE SAUDADES DE MEU PAI...
João Eudes Costa
joaoeudescosta@hotmail.com
Na vida tive o privilégio de possuir não apenas muitos amigos, mas verdadeiros irmãos. Nunca me senti desamparado. Nas horas de dor sabia que, bem próximo, ao primeiro gemido, surgiam aqueles que tudo fariam para amenizar a minha aflição e meu sofrimento.
Numa longa caminhada, deixam de nos acompanhar vários amigos, antigos companheiros de infância. São ausências que suportamos e aceitamos, porque não podemos nos insurgir contra os desígnios de Deus.
Entre os amigos que já não estão ao meu lado, há um muito especial, de quem primeiro recebi carinho. Companheiro que ignorava meus defeitos e que não se cansava de enaltecer minhas virtudes. Este querido, inesquecível e fiel camarada foi meu pai. Nunca consegui distinguir onde terminava o seu amor paternal e começava a lealdade de um excepcional amigo.
Na verdade, dele nunca me separei. Continua comigo, representado em tudo que de belo construí. Quando a tristeza me invade a alma, ouço o seu sorriso a mostrar um mundo de esperança e alegria. Quando as forças cambaleiam diante das difíceis jornadas, sinto a fortaleza de suas mãos e seu ombro amigo a me apoiar e induzir forças. Nos momentos de violência, quando a incontida cólera invade o meu ser, escuto a ternura de suas palavras, recomendando paciência, harmonia e paz. Nas horas de intransigência, de prepotência e orgulho, lembro-me da grandeza espiritual de meu pai, que, com humildade e prudência, sabia vencer a violência do celerado.
Tenho muita saudade do velho amigo. De sua voz protetora, da brancura de seus cabelos, da vontade de servir, da disposição de ceder, da vocação de ajudar, da coragem de ser humilde, de sua fé em Deus e de acreditar que todos são capazes da prática do bem.
Meu pai nunca se preocupou em possuir propriedades. O que herdou, a metade deu e, a outra metade, dela jamais se apossou. Numa de nossas longas conversas comentei o fato de não ter se interessado pelos bens deixados por seus genitores.
Como quem sabe e fala das alturas, apenas advertiu: “Não se preocupe com estas bobagens. Há coisas mais importantes para se fazer na vida. Semear amizades, cultivar a compreensão e colher o amor, isto sim, fica perene, de geração a geração. Na velhice nenhum patrimônio é tão importante como o afago e carinho que recebemos. Se o mundo todo hoje fosse meu e não tivesse meus amigos e você para me amar, ser meu companheiro, ouvir as amarguras de um velho octogenário, valia a pena minha vida? Será que as grandes fortunas substituem o calor e a grandeza de um abraço amigo ou de um beijo com doçura e afeição de um filho?"
Meu pai com a sua filosofia de vida, com a pureza que conduzia no coração, concluiu: “As heranças representadas em bens, raramente ultrapassam a primeira geração. O que deixarei como legado jamais se acabará. Quase ninguém inveja, porque poucos se interessam possuir. No entanto, você guardará com carinho, carregará no coração, distribuirá com todos que o cercam e não apenas com os seus descendentes. Deixarei a imagem de pai e amigo. Ficará a saudade de nossos encontros e o valor deste amor recíproco. Levo para o túmulo a sua figura de filho amigo e dedicado. Parto com a certeza de que a semente do bem, da amizade, ficará em suas mãos para que possa espalhar pelo mundo e fazer florescer jardins da fraternidade”.
Tenho tentado, em memória de meu pai, ser um jardineiro tão desprendido e dedicado como ele foi. Que meu filho continue esta obra de ceifar a maldade e semear o afeto. Seja tão meu amigo como fui de meu pai. Jamais deixe se apagar esta chama de esperança na construção de um mundo, onde haja, realmente, amizade, paz e harmonia entre os homens.

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