terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Nosso primeiro fotógrafo se chamava Pedro


Escrito por Juliana Winkel

Dom Pedro 2º difundiu a fotografia no País. E, surpreendentemente, a invenção ocorreu aqui antes de Daguerre divulgar na França a técnica que primeiro levaria seu nome: daguerreotipia.

No início da década de 1990, encontrou-se verdadeiro tesouro nos arquivos da Biblioteca Nacional, Rio: enroladas dentro de caixas metálicas, fotografias tiradas durante a segunda metade do século 19. Fotos de viagens à Espanha, Itália, Síria, Líbano, Egito, Jerusalém; cenas domésticas. O colecionador: Pedro 2º. Por mais de século, parte do acervo pessoal de fotos do imperador ficou armazenada, sem catalogação, depois de doada ao País por ele mesmo, após a Proclamação da República.

O trabalho de restauração e catalogação das enroladinhas, como passaram a chamá-las, demorou mais de uma década. Já expostas ao público, compõem registros da vida do governante que figura entre os maiores incentivadores das ciências e das artes nacionais - entre elas, a fotografia.

A maior coleção particular do século
Dom Pedro 2º, o grande mecenas brasileiro do século 19, patrocinou o estudo de compatriotas que projetariam o Brasil no cenário mundial, como o compositor Carlos Gomes. Trouxe artistas que fariam a ponte com a cultura europeia. Inaugurou a preocupação oficial com a preservação da natureza, ao promover a recuperação da Floresta da Tijuca, no Rio.

O interesse pelas artes e pela ciência se mostra cedo, ao descobrir a novidade: um navio-escola francês, de passagem pela capital do Império, traz tecnologia revolucionária nas mãos do abade Louis Compte: o daguerreótipo, invenção capaz de capturar imagens, impressas em metal. Compte faz três demonstrações ao futuro imperador, então com 14 anos.

Entusiasmado, Pedro encomenda aparelho igual e torna-se o primeiro fotógrafo brasileiro. Também incentivaria a profissão, ao atribuir títulos e outras honrarias a nossos principais fotógrafos. Sempre levava um nas viagens. Numa época em que ainda não existia o cartão-postal, fazia seus próprios registros ou comprava fotos por onde passava. Resultado: mais de 25 mil imagens, na maior e mais diversificada coleção particular do século 19.

Antes da daguerreotipia, a fotografia
Em 1876, Pedro II visita, na Vila de São Carlos, atual cidade paulista de Campinas, um precursor da fotografia. Antes que Louis-Jacques Mandé Daguerre levasse seu invento a público na França em 1839, outro francês, radicado no Brasil, havia conseguido êxito na nova arte. Desenhista, tipógrafo, escritor, Hercule Florence chegou a resultado parecido em 1833, seis anos antes de Daguerre.

Outros tinham tentado o experimento na Inglaterra e na própria França; chegaram a montar exposições. Mas, devido à popularidade de seu método, Daguerre seria reconhecido oficialmente como o inventor e emprestou seu nome à técnica: daguerreotipia. Florence diria:

"A fotografia é a maravilha do século. Eu também já havia estabelecido os fundamentos, previsto esta arte em sua plenitude. Realizei-a antes do processo de Daguerre, mas trabalhei no exílio. Imprimi por meio do sol sete anos antes de se falar em fotografia. Já tinha lhe dado esse nome; entretanto, a Daguerre todas as honras."

Monarquia vai, acervo fica
Dia 15 de novembro de 1889. O golpe republicano depõe Pedro 2º e, junto com a família, ele é banido. Após meses de negociações sobre o destino do patrimônio da família imperial, o ex-imperador decide pela doação do acervo: livros, periódicos, mapas, partituras, desenhos, estampas, fotografias. A Coleção Imperatriz Dona Leopoldina, que leva o nome da mãe do monarca, foi doada ao Museu Nacional. A Coleção Dona Thereza Christina Maria, sob o nome da imperatriz, seria dividida entre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Biblioteca Nacional.

Coube a esta a maior parte - a maior doação da história da biblioteca. Retratos de um Brasil em reinvenção.


Curiosidades
As fotografias tiradas por Pedro 2º eram registradas em negativos de vidro, em grandes formatos - o que resultava em alta qualidade.

Por que enroladinhas? Durante mais de cem anos armazenadas, a reação química entre o papel e as substâncias de impressão à base de albumina (clara de ovo) fez com que as fotos se enrolassem. Mas, ao abrigo da luz e da umidade, conservaram a qualidade.

Nas fotos da família imperial no Rio, os monarcas aparecem posando - amostra do prestígio que a fotografia assumiu na corte. Os registros eram considerados momentos importantes, quase um cerimonial.
Fonte:http://www.almanaquebrasil.com.br/arte/5587-nosso-primeiro-fotografo-se-chamava-pedro.html

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