quinta-feira, 15 de maio de 2014

A Palavra - João Eudes Costa



 Para a gramática a palavra é um som articulado em uma ou mais sílaba. A faculdade da espécie humana de exprimir suas idéias por meio de voz, numa rápida comunicação. A palavra, porém, tem significado muito maior, mais amplo e complexo. Só a traduzimos quando sentimos o impacto de sua força. Podemos até considerá-la notas musicais personificadas, cujas mensagens modificam-se em cada partitura e só quando as solfejamos somos capazes de traduzir a importância de sua expressão.
Palavra é a sabedoria que torna possível a ciência. A obra de arte que constrói a poesia. A mensagem que nos conduz ao ápice da glória e, também, nos joga no fundo do ostracismo. A arma que nos ajuda a combater as agruras do mundo, porém nos algema e nos faz prisioneiros.
A palavra extirpa o reservatório dos segredos e dele faz jorrar sentimentos que julgávamos sepultados no túmulo do entorpecimento e conduz o bálsamo que alivia a mais sofrida de nossas dores. A palavra nos envolve no pranto da saudade e nos faz rir, quando nos joga nos braços alegres do reencontro desejado.
A palavra faz reviver a fantasia da mocidade e tropeçar na realidade da velhice. Acusa e aprisiona na escuridão do cárcere, mas defende da acusação injusta, pondo no caminho a luz da justiça e da verdade. Traduz inesquecível jura de amor e por ela somos jogados na cruel sarjeta do desprezo.
A palavra nunca deveria ser usada como instrumento de flagelo. Mesmo quando envolvidos pela angústia, a palavra que fere não deveria fugir do peito. Depois de emitida, impossível retê-la e evitar que a ferida seja aberta. As palavras revelam nossos pensamentos. Se forem maus e irreverentes, devemos ter cautela, porque as palavras os fotografam.
Por isso, o silêncio também tem a força da palavra. Quando Pilatos quis buscar motivos para incriminar Jesus perguntou se ele era realmente o rei dos Judeus. A palavra afirmativa de Jesus valeu bofetadas dos algozes. Quando o pérfido julgador pediu que repetisse, a fim de condená-lo por perjuro, Jesus calou-se. O silêncio foi, naquele momento, mais forte do que qualquer palavra. Vencidos, os judeus não mais o esbofetearam e Pilatos, não tendo a coragem de declará-lo inocente, lavou as mãos num gesto de covardia.          
O que mais revolta, aos que agridem com palavras, é o silêncio. A fúria do agressor não permite ouvir a súplica do ofendido, pedindo a Deus forças para conservar a humildade e coragem para perdoar o ofensor. A sublime prece do silêncio vence a violência da palavra.
Se o Criador nos concedeu o privilégio da comunicação através da palavra e a usamos para ferir, ensangüentar, entristecer e fazer chorar o mundo é porque não aprendemos, sequer, ficar calado. Jesus nos deu o exemplo de que, a palavra, quando acusa, por mais injusta que seja não tem forças para superar o silêncio, quando este representar a voz da segurança e da tranqüilidade de um inocente.

A palavra, pois, não deve ser a expressão do ódio, da maldade e da vingança, mas a prece do perdão, o instrumento de concórdia e a voz do amor.

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