segunda-feira, 16 de junho de 2014

Alberto Porfírio e a Súplica do Roceiro.


Alberto Porfírio e a Súplica do Roceiro.

Uma madruga dessas eu tomei como meta ler a "Autobiografia" do múltiplo artista Alberto Porfírio que tem referido destaque como cantador violeiro, poeta cordelista, xilogravurista e escultor.
O escritor João Eudes Costa já havia me contado algumas histórias sobre Alberto Porfírio e suas astúcias, ressaltando sempre com demasiado orgulho o fato dele ter nas...cido em Quixadá, no ano de 1926 - e falecido em Fortaleza no ano de 2009 - deixando para a eternidade inúmeros cordéis e folhetos, por entre outros livros sobre os cantadores nordestinos e a cultura popular.
É interessante como várias vezes eu chegando à Quixadá me deparava com a escultura em homenagem ao Cego Aderaldo e desconhecia totalmente a autoria de Alberto Porfírio em tão valoroso trabalho.
Um caso que me chamou a atenção narrado por Porfírio na ''Autobiografia'', se deu na seca de 58, pois tendo ele sido convidado para um passeio a uma fazenda em Quixeramobim, o poeta volta consternado para Quixadá, impressionado com a situação de sofrimento das gentes e bichos naquele tempo de escassez (talvez em Quixadá a coisa estivesse menos preta).
Mas quando já no seu aconchego caseiro, o poeta liga o rádio para distrair-se um pouco, eis que a música que toca é justamente ''Súplica Cearense'', do inspirado Ari Lobo.
Como é sabido na música o eu-lirico se dirige a Deus num pedido de desculpas por ter chovido bastante, entendendo ser ele, no caso o culpado daquela situação.
Então Porfírio testemunhando na pele que naqueles dias, o caso era de talvez se desculpar com Deus pela ausência de chuvas, e não pelo contrario, pede aos numerosos fãs do cantor paraense que o perdoem, e escreve a seguinte parodia, que intitulou de ''Súplica do Roceiro'':

Ó Deus!
Ouvi este pobre roceiro
Que, de joelhos, rezando ao terreiro
Suplica por chuva para melhorar.

Ó Deus!
Olhai esses pobres bichinhos
Tem piedade dos animaizinhos
Que, de Fome e sede estão pra se acabar.

Senhor!
Isso que te peço sei que não mereço
Sou um pecador disso reconheço
Mas há tantos inocentes aí a sofrer

Meu Deus!
Ouvi os lamentos deste ser que amas
Somos passageiros desse barco em chamas
Só tu poderás a nós socorrer!

Senhor!
Olhai esses campos em cinza fumaça
Se sou eu o culpado de tanta desgraça
Tira-me deste barco e e joga-me ao mar.
Sé é por minha culpa que não vem inverno
Tira-me da vida e manda-me para o inferno
E salva o povo do meu Ceará.

Por Bruno Paulino

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