Deputados querem racistas cinco anos longe dos estádios. Enquanto isso, ex-presidente gremista acha tudo ‘folclore’ e manda recado ao amigo na rádio. O ‘Negão’…
Os atos racistas contra Aranha deverão excluir hoje o Grêmio da Copa do Brasil. Esta é a tendência do julgamento no STJD. A própria diretoria do clube gaúcho acredita que não terá como escapar. Deverá arcar pelos atos de seus torcedores. O grito de 'macaco' de Patricia Moreira que partiu da geral da arena gremista, dirigido ao goleiro negro santista, derruba qualquer tese de defesa. A punição deverá ser exemplar.
A ótima notícia para o Brasil é que o julgamento deverá ser apenas a primeira resposta da sociedade. A Câmara dos Deputados em Brasília estuda aumentar a pena dos racistas no futebol. Um projeto do deputado gaúcho do PMDB, Alceu Moreira, prevê que, além da pena de reclusão de um a três anos prevista em lei, o acusado seja banido dos estádios. Fique cinco anos sem poder acompanhar jogos de seu clube.
A pena poderá ser aumentada em um terço se o autor do crime pertencer a torcida organizada, se for servidor público, dirigente ou funcionário de entidade desportiva, de entidade que organiza a partida ou de empresa contratada para o processo de emissão, distribuição e venda de ingressos.
No caso de estrangeiros que cometam crime de racismo, a proposta prevê que sejam extraditados e impedidos de retornar ao Brasil pelo mesmo prazo de cinco anos.
Caberá ao próprio não permitir o acesso do torcedor racista ao estádio. O que obrigará a criação de um método de identificação de todo o público que for acompanhar as partidas. O projeto de lei foi apresentado em maio. Mas ganhou muita força nos últimos dias por causa do episódio envolvendo Aranha. Há uma pressão popular em Brasília para que seja aprovado o mais rápido possível.
A direção do Grêmio tentou de todas as maneiras se defender. Desqualificar, ironizar os gritos de macaco dirigidos por Patricia a Aranha. Como se todo estádio de futebol fosse uma terra sem lei, o paraíso dos racistas.
As declarações do ex-presidente do Grêmio, Luis Carlos Silveira Martins, são um bom exemplo. Ele falou com a maior convicção na rádio Gaúcha.
"Se você passar pela rua, encontrar um negrão, um afrodescendente e dizer ‘olha, negro macaco', você está praticando um racismo grosso, sim. Mas nesse contexto do futebol, nessa forma, é o fim do futebol."
Ou seja, para Martins, na rua chamar alguém de macaco é racismo grosso. No estádio, não. Inacreditável... Mas ele teve coragem de ir além.
"Acho o suprassumo do absurdo o que esta acontecendo. Não tenho palavras para definir o que está acontecendo com o Grêmio. E não estou falando como gremista. Absolutamente não. Porque sou absolutamente contrário ao racismo. Tenho grandes amigos negros. ‘Negão', está me ouvindo, sabe disso..." 'Negão' é a maneira como Martins trata seu amigo.
Na tentativa de tentar defender o Grêmio, o ex-presidente Martins só deixou tudo pior. Mostrou de forma explícita a maneira com que muita gente no futebol brasileiro pensa. É como se o racismo estivesse liberado assim que a pessoa entra no estádio. Nas arquibancadas e mesmo dentro do campo.
O ex-treinador da Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari, também difundiu essa visão. Foi quando era treinador do Palmeiras. Danilo, então jogador palmeirense, se desentendeu com Manoel, que atuava no Atlético Paranaense. Os dois se desentenderam antes da cobrança de um escanteio. Manoel deu uma cabeçada em Danilo. O atleta do Palmeiras revidou. Deu uma cusparada no rosto do adversário. Não satisfeito ainda o xingou. "Macaco do ca..."
Danilo foi suspenso pelo STJD por 11 partidas. Na ocasião, Luiz Felipe Scolari fez questão de diminuir a importância do fato. Definiu como 'bobagem'. "O que acontece no campo fica no campo. O Danilo não é racista. É coisa do futebol." O STJD acabou acatando a tese e a pena foi diminuída para seis partidas. As outras cinco viraram cestas básicas. Manoel havia prometido prestar queixa contra Danilo. Mas mudou de ideia. E tudo foi esquecido.
Ainda bem que Felipão alterou sua maneira de pensar. Está muito mais intolerante em relação ao racismo. "Acho isso uma aberração, acho isso uma tristeza, pra todos nós. Basta, não só nós do futebol, mas basta a população em geral. O governo e todos temos que dar um chega pra acabar com essa bobagem. O governo, através da escola, campanhas e nós, pelos nossos pronunciamentos. Afinal, cor não quer dizer nada. O que quer dizer muito é caráter. Acho absurdo que algumas pessoas ainda se expressem dessa forma."
É essa mentalidade que tem de prevalecer. Nunca houve no Brasil um caso tão explícito. As ofensas racistas de Patricia Moreira da Silva são mais do que claras. O grito de 'macaco' é nítido, cruel. Ela já está com advogado e deverá dar suas explicações à polícia amanhã. A defesa já começou a trabalhar. Seu advogado tem espalhado que ela está arrependida e que nunca foi racista. Se deixou levar pelo que ouve nos estádios gaúchos desde pequena. E quer o perdão de Aranha.
O jogador santista tem recebido apoio dos companheiros de clube. Indiscriminadamente, brancos e negros concordam com ele. Não querem que Aranha se submeta a um show na televisão. E desculpe Patricia. Seria ir contra todas as suas convicções. Esquecer o quanto o racismo o fez sofrer dentro e fora do campo.
Não houve limites para o ex-presidente gremista tentar isentar não só seu clube do racismo. Mas a própria Patricia Moreira da Silva. Compara a mulher de 23 anos a uma 'menina'. Desvia o foco para as organizadas do Corinthians. E apela até para Deus tentando convencer que não aconteceu nada na quinta-feira passada.
"A menina está sendo procurada no Brasil inteiro como se assassina fosse e os assassinados da Bolívia estão soltos. Os outros que deram tiro perto do Beira-Rio, também os do Rio de Janeiro estão soltos. Essa menina está virando assassina por ter feito um grito do folclore de futebol. Pelo amor de Deus."
Ainda bem que os auditores do STJD e a sociedade como um todo não estão se deixando levar por Martins. Nem mesmo o Grêmio. O presidente Fabio Koff rompeu com a torcida Geral. A que fica mais próxima do campo. Torcedores poderão entrar no estádio. Mas sem símbolo algum que represente a organizada ou o clube.
Foi uma represália pelos cantos racistas que citavam torcedores do Internacional como 'macacos imundos'. A cantoria aconteceu durante a partida contra o Bahia. As organizadas gremistas desafiavam as autoridades. Era uma resposta que desejavam que tudo continuasse como sempre foi em Porto Alegre.
Mas a resposta da sociedade brasileira é outra. A legislação ficará mais pesada para os racistas. O STJD deverá dar uma punição pesada ao Grêmio pelo que seus torcedores fizeram com Aranha. Patricia Moreira da Silva também não escapará ilesa do grito raivoso de 'macaco' ao jogador do Santos.
Talvez assim, quando Luis Carlos Silveira Martins for a um programa de rádio, tome outra postura. E ao mandar um recado ao seu querido amigo, o trate pelo nome. Não o chame de "Negão"...Fonte:http://esportes.r7.com.
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