terça-feira, 25 de novembro de 2014

O Sertão e o Mar

  


SERTÃO E O MAR
João Eudes Costa
Integrante da Academia Quixadaense de Letras
Há, realmente, muita diferença entre o sertão e o mar. Enquanto o mar é agressivo, irrequieto, barulhento e orgulhoso, o sertão é acolhedor, calmo, silencioso e humilde. O mar é o belo que todos temem. O sertão é o modesto que todos amam.
Pelo mar desfilam os grandes navios de luxo, cuja suntuosidade, chega a humilhar os que se deslocam, em viagens de turismo. Pelo sertão, caminham tropas de burricos e gemem, pelas estradas íngremes, os legendários carros de bois, tangidos por gente simples e sem ambições.
O mar deixa deslizar, em seu dorso, embarcações de guerra que vomitam fogo para destruir vidas. No sertão, a terra abre-se e no singelo milagre da fecundação surge a planta que dá o fruto para alimentar os homens.
No seu orgulho incontido, o mar não ama o marinheiro que, por anos, vagueia no seu dorso prateado. Por mais que o marujo goste do mar, dedicando-lhe toda a existência, ele jamais será capaz de oferecer-lhe, pelo menos, um túmulo onde possa descansar em paz.
Na sua humildade e bondade característica, o sertão jamais deixou de proporcionar um repouso eterno e digno aos heróis que lutaram e viveram sempre a seu lado.
O mar esconde, sob sua bravura, enormes tesouros e teima em não permitir que os homens deles façam uso, mesmo em proveito da humanidade.
O sertão, pelo contrário, entrega-se, pacificamente, às necessidades do homem e deixa tirar de suas entranhas até a última gota d’água, embora fique triste e seco, com as suas veias rasgadas e expostas ao calor que as destrói.
Por tudo isso o sertão é bem distante do mar. Quanto mais um avança, mais e mais o outro se afasta. Mesmo assim, não sei por que, penso que os dois se querem muito. Chego a pensar que o sertão, nas noites de luar, sobe o cume das serras, para espiar o mar se espreguiçar na areia branca da praia, já que não pode vê-lo de perto.
A timidez e a humildade do sertão não permitem que ele venha até ao mar, gigantesco e viril, dizer de seu afeto e amor.
Enquanto isso, o rugir do mar não é a agressividade que aparenta. Aquilo é o eco de seu gemido, da dor que se agrava nas solitárias noites sem luar, quando mais se agita e murmura, sentindo a falta do sertão, cujos pés passivos ele tem vergonha de beijar.

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