O
pesadelo de Dilma
Rodrigo
Constantino
- MP Advisors - Carta de Fevereiro - 4 de março de 2013
Dilma
teve dificuldade para dormir nesta noite, o jantar ainda brigava com os sucos
gástricos; os pensamentos ruins iam e vinham e nada do sono chegar. Após muito
rolar na cama, e com o auxílio de uma destas maravilhas capitalistas da
indústria farmacêutica, ela finalmente pegou no sono. E logo começou a
sonhar.
O
sonho começou animador. Uma linda moça, loura, elegante, ponderada e exalando
sabedoria, a convidou para um passeio. Mentalmente, a presidente anotou que
nunca havia visto a moça em nenhum congresso do PT. O passeio seria pelo futuro
próximo, algum lugar entre 2030 e 2040.
O
passeio começou fora do Brasil, pelos aliados bolivarianos. A Venezuela era
governada por Conchita Chávez III, neta de Hugo Chávez, que, embora vivo não
governava e apenas enviava tweets do hospital. O país
virou um amontoado de miseráveis que agora importava petróleo, todos os que
produziam ou tinham algum tipo de estudo agora estavam em Miami que, com isso,
viveu um novo boom econômico e já está entre
as cinco maiores cidades americanas. A próxima parada, rápida, foi a
Bolívia,
que já não era mais um país e sim um campo de
batalha de quadrilhas de cocaleros, sendo a mais
poderosa aquela comandada pelo pessoal que soltou um sinalizador em um jogo de
futebol há muito tempo atrás. Estabeleceram-se na Bolívia!
Para
encerrar o tour sul-americano, a linda
moça levou Dilma para a Argentina. A presidente achou que era uma peça de mau
gosto que pregavam nela. Buenos Aires, tão linda, estava caquética e destruída
como Havana. Não havia mais produção rural; a carne era importada da Austrália
(caríssima) e o tradicional doce de leite não existia mais. A população fazia
filas e mais filas atrás dos cupons de racionamento, que davam direito a uma
porção diária de comida. Já não havia mais moeda, corroída por uma inflação de
quatro dígitos. O escambo havia voltado e cada um se virava como podia. O país
era dirigido por uma neta do Maradona com um descendente de Perón, que tinha
como plataforma de governo a recuperação das Ilhas Falklands, nesta altura já com
um PIB superior ao da Argentina.
Dilma
começava a ficar zangada, achando que isso era uma pegadinha do Lobão ou do
Mercadante. A moça então disse, “chega dos vizinhos, vamos ver o
Brasil”. Dilma ficou feliz, “agora vamos ver a potência que eu e Lula
criamos”. A visita começou por uma cidade do sul, onde tinha acabado
de haver um incêndio em uma boate, ceifando a vida de 300 jovens. Dilma ficou
fula. “Como? Nós baixamos 87 decretos e 234 artigos regulamentando a atividade
de boates em 2013. Como pode?”
A
próxima parada foi numa plataforma do pré-sal, da antiga Petrobrás. A plataforma
(como as outras) já não produzia mais nada há 20 anos. Todas foram alugadas pela
empresa de festas do Thor Batista e eram usadas para raves em alto mar. Tudo
com open bar e
passagem de helicóptero inclusos. Dilma ficou pensando no que poderia ter dado
errado. Afinal, ela caprichou na proteção e no financiamento da indústria
nacional. Agora o Brasil importava petróleo dos Estados Unidos, que com sua
tecnologia de extração do ouro negro do xisto betuminoso, se tornou o maior
produtor mundial.
Ao
passar pelas cidades Dilma levou um susto: o trânsito simplesmente parou
(afinal,
o que esperar com quatro milhões de carros vendidos
por ano e zero km de estradas construídas) e os carros estavam abandonados na
rua, num grande nó. As pessoas agora andavam a pé e as bicicletas do Itaú eram
disputadas a tapas.
Ao
procurar agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, Dilma levou um susto
ao não ver mais nenhuma. A moça explicou que,
após a brutal expansão de crédito, seguiu-se uma
onda de inadimplência que levou o governo a ter que fazer seguidas
capitalizações nos dois bancos. No final, o governo juntou os dois bancos num
só, o Banco do Povo, que tinha no seu logo a figura do Che
Guevara.
Dilma
perguntou para a sua anfitriã o que era aquela fila no centro do Rio de Janeiro.
A moça explicou que era a fila do
Bolsa-Vela. Afinal, o setor de energia elétrica foi
dizimado em 2012 e não houve mais investimentos. Hoje temos energia somente 4
horas por dia e a vela virou artigo caro e escasso. O governo petista, sempre
atento ao social, criou o programa de distribuição de velas para os mais
desfavorecidos.
Dilma
perguntou sobre os programas de cotas. Ficou sabendo que apenas quatro cotistas
conseguiram se formar verdadeiramente. Os outros se formaram por liminar ou pelo
novo sistema de cotas para aprovação automática. Os erros de engenharia e de
médicos se avolumavam, causando muitas mortes; o CREA estudava a polêmica medida
de somente habilitar engenheiros paraguaios. Ela anotou para
chamar o Mercadante para uma
reunião.
Dilma
já estava ficando realmente preocupada quando se lembrou de Brasília. Pediu para
ver a cidade do poder. Poucas surpresas. O presidente era governado pela chapa
Lindbergh Farias,
do PT, tendo como vice o filho do Collor, do
PMDB. No Congresso, os netos de Sarney e Renan se revezavam na presidência do
Senado e se divertiam fazendo fogueiras com os abaixo-assinados para que
saíssem.
A
base aliada já contava com 364 partidos e a palavra oposição foi retirada do
Aurélio, por falta de uso. Naturalmente, para pagar a conta deste estado
gigantesco, a carga tributária já estava em 70% do PIB. Com isso a economia não
conseguia crescer e o PIB per capita já era metade do anotado em 2013. O governo
Lindbergh estudava exportar metade da população para África, e com isso melhorar
o indicador. O prédio do Banco Central virou um Fundo Imobiliário de um Shopping
e agora a política monetária era decidida diretamente por Lindbergh e por
Collorzinho, no poker das segundas, após o
expediente. A inflação não se sabe se oscila nos dois ou nos três dígitos,
tantas são as manobras e tablitas sobre o índice. Para manter o povo feliz e o
projeto político em funcionamento, os programas de transferência de renda já
atingem 300 milhões de pessoas, embora a população tenha apenas 280 milhões. Um
mistério!
Dilma
perguntou para a moça (seria uma fada?):
afinal, o que tinha dado errado? A diáfana e sábia
criatura calmamente explicou; ”Dilma, todos esses experimentos sociais
fracassaram, um após o outro. Os seres humanos são diferentes e tem diferentes
capacidades e ambições. Quando compulsoriamente (veja bem, nada contra a
caridade espontânea) os mais fortes e trabalhadores têm que
sustentar os fracos e preguiçosos, a sociedade implode. Afinal, o açougueiro não
sai da cama de manhã imbuído de doar a melhor carne para o seu cliente. Sua
motivação é o lucro. O lucro não é feio, muito pelo
contrário. A beleza do lucro é ser a
expressão monetária do trabalho bem feito, da inventividade, do sacrifício de
uma juventude de estudos, do risco, enfim, de trocar o prazer momentâneo por
algo bem maior lá na frente. Se você monta uma
estrutura social onde os empreendedores são punidos e os preguiçosos são
favorecidos, o que
você acha que os primeiros fazem? Vão embora, é
claro. E o que é uma sociedade formada por gente acomodada? O que você acha que
acontece em uma economia sufocada por milhões de normas e decretos, onde é mais
simples se cadastrar em alguma bolsa- qualquer-coisa do que produzir uma caneta?
O que você acha de uma sociedade onde o empresário gasta mais tempo com o seu
contador do que com o seu cliente? Dilma, minha querida. Não se extermina as
galinhas dos ovos de ouro de um país
impunemente.”.
Dilma
acordou sobressaltada, o dia já amanhecia em Brasília e ela anotou no post-it que deveria alterar as
regras de privatização de infraestrutura. Enquanto se maquiava lembrou-se de
deixar o Tombini fazer alguma coisa com a inflação, que já estava incomodando, e
também de demitir o Mantega. Mas como fazer isso sem dar o gostinho para aqueles
jornalistas ingleses nojentos? Mas a pergunta que oprimia o seu coração
era: ”será que
vai dar tempo?”.
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" Um dia os chimpanzés chegarão ao poder no Brasil.
Não será
por luta armada ... será pelo voto! "
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