terça-feira, 10 de setembro de 2013

Fruta da Longevidade e do Conhecimento

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Escrito por Mylton Severiano

Digestiva. Rejuvenescedora. Purifica o sangue. Limpa dentes e fortalece gengivas. Faz bem à pele. Regula o colesterol e ajuda a emagrecer. Protege coração, pulmões e células. Boa para o cérebro. Um dos primeiros alimentos sólidos que o bebê conhece.

Criança da minha geração, longe dos grandes centros, só quando doentinha comia maçã – era rara e cara até meio século atrás. Mas, para essa criança, inapetente, necessitada de alimento fortalecedor e de fácil digestão, os pais compravam. Na mercearia, ficavam as maçãs envoltas uma a uma num papel sedoso azul arroxeado, que guardava seu perfume durante dias. Vinham da Argentina, da província de Mendoza.

A fruta da macieira, árvore da família das rosáceas, é parenta da pera, da nêspera, do marmelo. Com tronco de casca parda e lisa, o pé de maçã chega a dez metros de altura. A copa oferece um espetáculo aos olhos quando se carrega de suas vermelhas frutas.

Originária do Cáucaso, Oriente Médio e leste asiático, é a árvore mais cultivada no mundo, e certamente há mais tempo que qualquer outra. Para o europeu “fruta rainha”, a maçã aqui chegou com os colonizadores e perpetuou-se nos pomares, mirrada e ácida. Pela década de 1960, podia-se comprar maçã nacional em Valinhos, a 50 quilômetros da capital paulista. Vinha em caixas de tomate, a preço baixo, qualidade idem. Quem transformou o Brasil em grande produtor, no meio da década de 1970, foram imigrantes europeus e seus descendentes, fixados nos Estados mais frios, os sulistas Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Graças a gente dedicada, agora até regiões serranas de Pernambuco produzem a fruta que exige clima frio ou temperado. O holandês Theodorus Daamen, um apaixonado pela maçã, desde que aqui chegou em 1973 se empenha em desenvolver o cultivo em regiões “marginais”. A revista Globo Rural de fevereiro de 2008 dá notícia de um feito de Theodorus: acaba de implantar a cultura da maçã também no coração da Bahia, em plena Chapada Diamantina. Uma façanha, pois, explica a reportagem, lá não faz um mínimo de 350 horas de frio por ano – é com o frio que a árvore entra em dormência, “ativando as enzimas que possibilitam o posterior florescimento e a frutificação”.

A paixão pela maçã acompanha a humanidade desde tempos imemoriais. É o fruto do conhecimento dos cristãos. Para certas culturas, o paraíso é representado por macieiras – lugar de abundância e prazeres, onde o chão, em vez de relva, é coberto de maçãs; para outras, é uma ilha repleta de macieiras carregadas.


Árvore de outros mundos
Entre os gregos, corria que os deuses Zeus e Hera ganharam maçãs como presente de casamento. E o semideus Hércules cumpre o último de seus 12 trabalhos indo justamente buscar os pomos que constituem a fonte da eterna juventude, cultivados pelas ninfas Hespérides e guardados por uma serpente. Sob uma macieira o mago Merlin transmitia ensinamentos ao rei Artur. Sob uma macieira Newton intuiu a lei da gravidade, quando uma maçã lhe caiu na cabeça. A simbologia para os cristãos foi flagrada no samba-enredo Mulheres do Brasil (1988), de Joyce, que começa: No tempo em que a maçã foi inventada / Antes da pólvora, da roda e do jornal / A mulher passou a ser culpada / Pelos deslizes do pecado original.

Segundo a Bíblia, Deus diz a Adão que, se comer da árvore do conhecimento, terá vida atribulada. Eva oferece e Adão experimenta o “fruto proibido”, a maçã. É com a macieira que pintores do cristianismo retratam o paraíso. E o aluno que deixa na mesa da professora uma apetitosa maçã vermelha? Que significa?


Uma maçã por dia mantém o médico longe

O título acima traduz um ditado de língua inglesa (ver castanheira-do-pará, na edição de junho de 2008). Pelas propriedades da maçã, está certo. Tem vitaminas A, B1, B2, C; fósforo, ferro, anino, pectina. Antioxidante, preserva as células. Combate obesidade, reumatismo, diabetes, doenças cardiovasculares, da pele, do sistema nervoso, acidose, pneumonia, afecções das vias respiratórias, problemas intestinais, esgotamento nervoso e cerebral, pedra nos rins, inflamações da bexiga e do aparelho urinário. Está bom, não?


Um vinagre normalizador de anormalidades

Há 20 anos, na minha dieta só entra vinagre de maçã. Li maravilhas sobre ele nalgum lugar. Oxigena o sangue e previne o endurecimento das artérias. Fortalece ossos e dentes. Favorece a coagulação do sangue (para a mulher: reduz o fluxo da menstruação). Em jejum, com uma colher de mel, evitará demência senil. E aí vai um fato. Em Veranópolis, interior gaúcho, onde o povo consome muita maçã e derivados, como vinagre e chá da fruta seca, a expectativa de vida é superior à média do Brasil.

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