sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Patrimônios do Brasil


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Escrito por Bruno Hoffmann

Faz bem para o turismo, para a cultura e para a autoestima da população. Por estes motivos, o País pleiteou e conseguiu que oito de seus municípios se tornassem patrimônio da humanidade, título concedido pela Unesco. Em contrapartida, o governo e a sociedade se responsabilizam pela manutenção dos locais, sob pena de ter o título cassado. Seja pelo valor histórico, pelas obras de arte fundamentais ou pela arquitetura arrojada, pedaços destas cidades são considerados intocáveis. Viaje por eles nas próximas páginas. E, melhor ainda, percorra os quatro cantos do País para ver de perto por que estes lugares são considerados patrimônios do Brasil.


Brasília. A cidade bossa nova.
Entre todas as cidades brasileiras tombadas como patrimônio da humanidade pela Unesco, o conjunto arquitetônico de Brasília é o único moderno. As características peculiares da capital federal receberam o título em 1987. O argumento era de que a cidade planejada, dividida em quatro esferas independentes, e com funções específicas (áreas monumental, residencial, gregária e de lazer), concebia ao local uma característica única.

A construção de Brasília foi a promessa de campanha mais ambiciosa do presidente Juscelino Kubitschek. Ao transferir a capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central em 1960, JK pretendia melhorar a distribuição da população brasileira e resguardar a soberania nacional. O plano-piloto escolhido foi o do arquiteto Lucio Costa, que concebeu grandes avenidas sem cruzamentos. As áreas foram distribuídas em setores. Boa parte dos prédios foi erguida por pilotis (apoiados em colunas, deixando o vão livre), inspirados pelos conceitos modernistas do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Os edifícios públicos desenhados por Niemeyer se destacavam no horizonte, com formas curvilíneas e modernas. São exemplos a Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional.

O País vivia um grande clima de otimismo, inspirado pela música, pelo futebol, pela indústria automobilística, pela estabilidade econômica.
Como tudo que soasse novo, Brasília foi apelidada de “cidade bossa nova”.


São Luís. Nascida francesa, famosa pelos portugueses
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A cidade de São Luís é a única capital brasileira fundada por franceses. Mas foi pela herança portuguesa que, em 1997 – e após 20 anos de reformas –, o município foi considerado patrimônio da humanidade. A área preservada é o centro histórico, que abriga um dos mais importantes acervos da arquitetura lusitana, com quase 3.500 edifícios tombados.

Nada de igrejas e construções suntuosas. O conjunto arquitetônico destaca-se pela beleza simples e regular das casas que constituem o centro histórico. As paredes são revestidas com refinados azulejos portugueses, trazidos para amenizar a alta umidade da região. Todos os edifícios estão incorporados ao dia a dia, adaptados como órgãos públicos, hotéis e restaurantes.

Este ano, o povo se assustou com um boato de que a Unesco tiraria o título da cidade, devido ao descaso com o casario. Em agosto, uma representante da entidade visitou São Luís e desmentiu a notícia. Mas deixou um aviso: “São Luís perderá o título somente se o governo e o povo quiserem”. Ninguém quis, e a cidade se mobilizou, desativando estacionamentos irregulares e reforçando os programas de conscientização para a preservação do patrimônio.


Olinda. Uma terra de batalhas.

Em 1978, Olinda entrou numa luta para ser considerada patrimônio da humanidade. Políticos e outras personalidades estavam na linha de frente, como o ministro Eduardo Portela e o embaixador Holanda Cavalcanti. O trabalho surtiu resultado e, quatro anos depois, o município passou a figurar no seleto grupo da Unesco.

Erguida pelos portugueses a partir de 1535, a cidade pernambucana mantém um conjunto arquitetônico que está entre os mais antigos das Américas, apesar das numerosas guerras e ataques estrangeiros que sofreu durante a história. Um dos mais violentos aconteceu quando holandeses invadiram a então Vila de Olinda, em 1630. O local foi incendiado, e o centro econômico, transferido para a vizinha Recife. Os holandeses foram expulsos em 1654, e iniciou-se uma lenta reconstrução urbana.

A derradeira batalha começou no fim dos anos 1990, quando a Unesco ameaçou tirar o título da cidade pelo abandono dos edifícios, rachaduras e fachadas pichadas. Boa parte dos problemas foi sanada. Outro “inimigo” à preservação era o alto número de turistas durante o Carnaval. Em 2001, a Prefeitura determinou uma série de medidas para conter o descuido de animados foliões e do batalhão de prestadores de serviço, como vendedores de bebidas e comidas. A festa continua, mas o título de patrimônio da humanidade parece mais protegido.


Tesouros Mineiros

O ouro de Minas

Ouro Preto foi a primeira cidade brasileira a receber o título de patrimônio cultural da humanidade da Unesco, em 1980. A razão é forte: o município possui o maior conjunto homogêneo de arquitetura barroca do mundo. Além disso, foi um dos mais importantes centros de mineração da chamada Idade do Ouro.

A cidade – então com o nome de Vila Rica – teve moradores ilustres. Foi durante o século 18 que um artista local começou a redesenhá-la com refinadas obras de arte barrocas. O nome dele, Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho.

Outro personagem de destaque é Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que não nasceu em Ouro Preto, mas transformou-a num dos palcos onde se desenrolou a Inconfidência Mineira. Mártir da Independência, herói nacional e símbolo do lugar.


Outro diamante

Parecia final de Copa do Mundo. Ao receber a notícia de que a cidade havia se tornado Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, em 1999, os diamantinenses comemoraram com repiques, fogos de artifício e buzinaços, congestionando as estreitas ruas encravadas no Vale do Jequitinhonha.

Durante os séculos 18 e 19, a região foi uma importante rota de garimpo de ouro e diamante. Os casarões estão preservados entre as ruas bucólicas, onde, de acordo com o escritor Mário Quintana, “nos dias de nevoeiro os fantasmas aproveitam para passear incógnitos”.
Além do conjunto arquitetônico, a arte barroca, a gastronomia, a beleza natural, a musicalidade e a cultura popular também justificaram o título concedido pela Unesco.

É a terra natal do ex-presidente Juscelino Kubitschek, responsável por criar, décadas depois, outro patrimônio nacional, Brasília. A casa em que viveu, no número 241 da rua São Francisco, ainda está lá para contar a história da infância humilde de um dos mais admirados presidentes do País.


Os doze profetas


A primeira visão de Congonhas, na região do Alto Paraopeba, é de assustar. E fascinar. No alto de uma colina estão 12 profetas que parecem vigiar moradores e visitantes. Trata-se do Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, tombado pela Unesco em 1985. Os profetas foram esculpidos por Aleijadinho na virada para o século 19, e marcam a expansão de uma cidade célebre por ser um importante centro de mineração.


Salvador. Uma cidade, todos os santos
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Por preservar a arquitetura urbana original do século 16, o centro histórico de Salvador recebeu o título da Unesco em 1985.

A cidade era, naquele século, um dos principais centros administrativos do País, principalmente pela posição estratégica de seu porto, considerado pelos portugueses um dos mais importantes do mundo. Durante 200 anos foi a sede do Governo Geral do Brasil, o que impulsionou a construção de obras suntuosas. Destacam-se a Praça Municipal, o Terreiro de Jesus, o Caminho de São Francisco, o Largo do Boqueirão e o Largo de Santo Antônio, que mantêm os traçados originais de suas ruas, ladeiras e becos. Lá está o Pelourinho, onde a revolta dos escravos se transformava em sangue nas mãos dos capatazes, e onde hoje a cultura do povo negro ganha destaque. Ao redor, dezenas de casarões históricos, como se fosse um enorme museu a céu aberto.

Além da importância do casario, a escolha da Unesco também foi motivada pelas manifestações culturais, como os cultos religiosos, a culinária e as festas populares.


Cidade de Goiás. A doce terra de Cora Coralina.


"Uma cidade europeia adaptada às condições climáticas, geográficas e culturais do centro da América do Sul.” Desta forma defendeu-se a inclusão do centro histórico da Cidade de Goiás como patrimônio da humanidade, concedido pela Unesco em 2001.

Mas a tarefa não foi tão fácil. Durante uma visita do presidente Fernando Henrique Cardoso, o escritor Bernardo Élis entregou-lhe um ofício com o pedido que trabalhasse pela causa. Sem resultado algum. Pouco depois, outras entidades resolveram entrar na empreitada, conquistando o intento.

Trata-se do primeiro núcleo urbano fundado em território goiano, no início do século 18. A história, entretanto, não foi feita de forma nobre. Um grupo de bandeirantes comandado pelo famoso Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera, fundou a vila após massacrar os índios goiases.

Com a promessa de riquezas como ouro e diamante, Vila Boa (seu primeiro nome) atraiu grande número de pessoas. Formaram-se núcleos urbanos, com casarões, obras de arte, igrejas imponentes. Em 1937, a capital foi transferida para Goiânia, colocando o lugar no esquecimento. Atitude que, ironicamente, manteve a preservação até o tombamento pela Unesco.

A filha mais ilustre da cidade é Cora Coralina, que além da poesia tornou-se famosa pelos doces que preparava. A casa em que viveu, conhecida como A Casa Velha da Ponte, é hoje um museu em sua memória.

Fonte: www. almanaquebrasil.com.br

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