domingo, 3 de agosto de 2014

Cuidado, eles voltaram - Crônica de João Eudes Costa

CUIDADO, ELES VOLTARAM
João Eudes Costa
                   Novamente estão de volta ao sertão os candidatos que lutam pela permanência no poder, ou que pretendem, igualmente, usufruir das mordomias e dos privilégios que o êxito nas eleições lhes assegura.
Há muito o sertanejo não era tão festejado. Voltaram os abraços festivos e os cumprimentos efusivos. Os que andavam léguas para fugirem das estradas sem asfalto, hoje percorrem maiores distâncias, a fim de penetrarem nas carroçáveis e veredas, onde o próprio carro, comprado exclusivamente para os serviços da eleição, faz a estrada.
Os que se portavam indiferentes aos problemas sociais rurais, agora demonstram preocupação e mostram-se constrangidos diante da miséria do sertanejo. Tamanha a capacidade de representar, que chegam às lágrimas, pondo em evidência os pendores pelas artes dramáticas.
Aquela arrogância ridícula, ignorando os que aflitos sofriam a seu redor, foi transformada, como por encanto, numa simpatia envolvente, beijando crianças pobres, ajudando deficientes, segurando velhos pelo braço, numa dedicação que, de tão incomum, causa surpresa e admiração.
São os políticos que voltaram ao sertão, em busca do passaporte para o exercício do poder. Depois, novamente se distanciarão do meio rural, indiferentes aos problemas e anseios dos rurícolas.
Essa gente tinha o direito de expulsá-los quando voltassem repetindo as mesmas mentiras, com a intenção de voltar a nos trair. O sertão, todavia, é puro, leal e não alimenta ódio, nem cultiva a vingança. A tradicional hospitalidade abre a porta dos casebres humildes e tudo é posto à disposição do visitante, por mais impudente que seja.
Por mais mágoa que o sertanejo sinta, por mais ingratidão que tenha sofrido e decepção experimentada, o sertão abraça os que o apunhalam, aperta a mão que nele bateu, e põe no santuário sagrado de seu coração os que o traíram e o fizeram sofrer.
Sendo o sertão assim puro, sincero, ingênuo e fraterno, por que vocês, homens da política e profissionais do poder, não correspondem com uma postura à altura dos sentimentos desta gente? Por que vocês, depois de eleitos, não continuam com esta estreita convivência com o trabalhador rural, procurando resolver, de fato, os seus problemas, aqueles mesmos que vocês se inteiraram nas campanhas eleitorais passadas?
Não abusem da confiança, humildade e hospitalidade deste povo. Um dia o sertão deixará de confiar, resolve desconhecê-los, tratando-os da mesma maneira como por vocês é tratado. Somente então irão pagar o preço da mentira, do fingimento e da traição.
O importante é que tudo isso pode acontecer na eleição que se aproxima. Podem vocês pensar que estão, mais uma vez enganando, e as urnas demonstrarem que desta vez foram vocês que se enganaram.
Lembrem-se de que vocês compraram a nossa confiança com notas falsas de suas promessas. Conquistaram a nossa simpatia, abraçando-nos e nos traindo. Agora, que descobrimos quem são, vamos devolver as notas falsas, pondo-as nas urnas das coisas imprestáveis, porque, em todas elas, estão estampados os retratos dos traidores e mentirosos.


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