1830 – O REGISTRO DE BATISMO DE ANTÔNIO CONSELHEIRO
Por: Rostand
Medeiros
O documento que vou
apresentar no nosso Tok de História é como está documentado o batismo de Antônio
Vicente Mendes Maciel, que ficaria conhecido na história do Brasil como Antônio
Conselheiro.
Esta é a íntegra do
texto;
“Aos vinte e dois de
maio de mil oitocentos e trinta batizei e pus os Santos Óleos nesta Matriz de
Quixeramobim ao párvulo Antônio, pardo, nascido aos treze de março do mesmo ano
supra, filho natural de Maria Joaquina. Foram padrinhos, Gonçalo Nunes Leitão e
Maria Francisca de Paula. Do que, para constar, fiz este termo, em que me
assinei.
O Vigário, Domingos
Álvaro Vieira”
- Livro de
Assentamentos de Batizados da Paróquia de Quixeramobim, Livro 11, fl. 221
v.
O
registro de batismo de Antonio Conselheiro
Este documento já a
muito havia sido pesquisado pelo cearense Ismael Pordeus, que inclusive já havia
publicado na íntegra, no periódico cearense “O Nordeste”, na edição de quinta
feira, 6 de julho de 1949.
Mas lendo com calma o
que está escrito no Livro de Assentamentos algumas equenas e interessantes
informações surgem.
Visão
que a imprensa conservadora do final do séc. XIX tinha de Antônio
Conselheiro
Primeiramente
temos que registrar que Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu em Quixeramobim,
Ceará, em 13 de março de 1830, uma quinta feira, em um ano considerado
seco.
Casa
onde nasceu Antônio Conselheiro, ainda preservada na rua Cônego Aureliano Mota,
nº 210, próximo à Praça Dias Ferreira, Quixeramobim, Ceará - Fonte - Magno
Lima
Era filho do
comerciante Vicente Mendes Maciel e de Maria Joaquina de Jesus. Para outros o
nome da sua mãe era Maria Joaquina do Nascimento, tinha o apelido de Maria Chana
e ainda Maria Maciel (In Benício, Manuel. O Rei dos Jagunços, Rio de Janeiro,
Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997, Págs. 8 e 9, 2ª Ed. / Levine, Robert. O
sertão prometido-O massacre de canudos, São Paulo, EDUSP, 1995, Págs.181 a 183,
1ª Ed.).
Dois meses
depois do nascimento do jovem Antônio Maciel, no dia 22 de maio de 1830, um
sábado, ele foi batizado na Matriz de Quixeramobim, uma majestosa igreja
construída em 1755, cujo padroeiro é Santo Antônio, sendo considerado o primeiro
templo religioso da região do Sertão Central do Ceará.
Matriz
de Quixeramobim - Fonte - Walter Leite
Coincidentemente,
o dia em que o jovem Antônio Maciel foi batizado é dedicado pela Igreja católica
a devoção da monja agostiniana batizada como Rita, que morreu na cidade de
Cássia, no ano de 1457, na província de Umbria, Itália. Mas não existe nenhuma
indicação que a mãe de Antônio Maciel, Dona Maria Joaquina, fosse devota desta
santa e decidiu batizar seu filho neste dia.
Certo é que ao
lemos o Livro de Assentamentos de Batizados da Paróquia de Quixeramobim, Livro
11, fl. 221 v., atualmente pertencente à Diocese da cidade cearense de Quixadá,
vemos que somente o jovem Antônio foi batizado naquele
sábado.
Capa
do livro de Assentamentos, onde está o registro de Antônio
Conselheiro
Primeiramente
chama atenção na foto do registro, logo abaixo do nome “Antônio”, a designação
de sua cor como sendo “Pardo”, o que aponta o alcance das designações raciais no
Nordeste do Brasil daquela época.
Percebemos a
ausência do pai no registro e, provavelmente, na própria
cerimônia.
Para aqueles
que estudam a vida do Conselheiro, a ausência documentada de Vicente Maciel
naquele livro de registro e a possível ausência na cerimônia de batismo de seu
único filho varão não é nenhuma novidade.
Vicente era
tido como um homem direito, trabalhador, mas muito complicado, como se diz
atualmente. Estava no segundo casamento, era parcialmente surdo, considerado
taciturno, que ocasionalmente realizava péssimos negócios que geravam dívidas e
era alcoólatra. Em uma ocasião, quando bêbado, havia espancado a primeira mulher
quase até a morte.
Analisando as
folhas de batismo dos meses anteriores e posteriores ao batizado de Antônio
Maciel, o seu registro é o único que não consta o nome do
pai.
Teria havido
problemas com o vigário local?
Ou alguma
alteração séria teria ocorrido na época, a ponto de indispôr Vicente com o meio
social do seu lugar e comprometer sua participação no
evento?
Ou estaria
vergado de cachaça, sem condições físicas para participar da
cerimônia?
A razão não se
sabe. Mas seu nome não consta do documento.
Igualmente nada
sabemos dos padrinhos Gonçalo Nunes Leitão e Maria Francisca de
Paula.
Outra situação
interessante diz respeito ao nome do vigário. Para muitos o nome do
representante da igreja em Quixeramobim que batizou Antônio Maciel seria Antônio
Álvaro Vieira. Mas analisando a sua assinatura, o nome que surge é Antônio
Alvares Vieira. Na foto da assinatura do vigário é possível distinguir
nitidamente o “S” de Alvares.
Assinatura
do vigário Antônio Álvares Vieira
Sendo este o
nome correto do vigário, encontramos a figura de Domingos Alvares Vieira, um
religioso católico nascido na cidade pernambucana de Goiana e batizado em 22 de
outubro de 1795. Era filho de José Alvares Vieira e de Francisca Lourenço.
Ordenou-se em Olinda e depois foi vigário no Ceará (Em
Quixeramobim?).
Depois
tornou-se lente do Liceu da Paraíba. Teve participação política, onde foi
Deputado Provincial da Paraíba, na 1.ª Legislatura, cuja sessão de instalação
ocorreu no dia 7 de abril de 1835. Foi Deputado à Assembleia Geral, pela
Paraíba, na 3.ª Legislatura, de 3 de maio de 1834 a 15 de outubro de
1837.
Após esta
experiência política, o sacerdote Vieira voltou a Goiana de onde foi vigário
durante muitos anos. Foi Conselheiro do Governo de Manuel de Carvalho e ainda
vivia em 1849. (In Pio, Fernando. Apontamentos Biográficos do Clero Pernambucano
(1535 – 1935). Recife, Arquivo Público, 1994, 2 volumes).
Seria o
religioso Vieira, que foi Deputado Provincial, o mesmo que anos antes batizou
uma criança que se tornaria Antônio Conselheiro?
O registro do
jovem Antônio Maciel é o primeiro da folha esquerda
Infelizmente é
outro questionamento sem uma resposta.
Sobre o local
de nascimento de Antônio, segundo material contido no site
http://meltingpot.fortunecity.com/hornsey/372/evolucao.htm, informa que
Quixeramobim primeiramente surgiu a partir de uma propriedade denominada Santo
Antônio. Depois o lugarejo foi paulatinamente evoluindo pra a pequena povoação
denominada Santo Antônio do Boqueirão, ou Santo Antônio de
Quixeramobim.
Consta que
oficialmente o lugarejo pertenceu primeiramente à Vila de São José de Ribamar
do Aquiraz até a sua elevação a vila, o que se confirma mais uma vez com asa
transcrições que se seguem: Ao ouvidor Manuel de Magalhães Pinto de Avelar de
Barbedo “coube-lhe instalar a Vila de Campo Maior de Quixeramobim, até então
pertencente a Aquiraz, a 13 de junho de 1789″.
O site ainda
aponta que os sertões de Quixeramobim eram constituídos de vastos campos que se
estendiam pelas planícies adjacentes. Porém, sobre o nome Campo Maior a verdade
histórica aponta que por orientação do marquês de Pombal, primeiro ministro de
D. José I, foi expedida uma Carta Régia, datada de 6 de maio de 1758,
determinando que toda vila a serem criada no Brasil-Colônia, teriam que receber
nomes de localidades existentes em Portugal. Essa medida perdurou até metade do
ano de 1803, quando deixou de ser cumprida.
Quixeramobim
atualmente - Fonte - Magno Lima
Ao ser elevada
a categoria de vila, o lugarejo teve seu nome mudado para Vila de Campo Maior,
devido à determinação contida na lei acima. O nome de Vila de Campo Maior não
foi bem aceito pela população, que continuou a fazer uso do termo Quixeramobim,
isto é, Vila de Quixeramobim e, raramente, Vila de Campo Maior de
Quixeramobim.
Outra
visão do texto original
Na época do
nascimento de Antônio Vicente Mendes Maciel, a comunidade já era conhecida
apenas como Quixeramobim e assim está descrito nos autos do
batismo.
O resto da
história de Antônio Conselheiro é bem conhecido e todos sabem o seu
desfecho.
P.S. – Um
agradecimento todo especial aos membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias, sede de Natal, pelo apoio na realização deste artigo.
(http://www.lds.org.br)
Fonte:http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/search/label/Ant%C3%B4nio%20Conselheiro
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