quarta-feira, 7 de maio de 2014

Estradas da Vida - João Eudes Costa



                              ESTRADAS DA VIDA

                                  João Eudes Costa

Nossa vida muito se assemelha a uma longa estrada. Quando somos criança, temos forças para percorrê-la, com destemor, sem nos preocupar com qualquer obstáculo. Quanto mais andamos maior a vontade de prosseguir, como se não houvesse o dia seguinte para continuar a caminhada.
As estradas novas também são assim. Longas, limpas, sem as rugas que nos convidam a correr, a alcançar distâncias no menor espaço de tempo possível. Nelas caminhamos com denodo, confiantes sem nos lembrar de qualquer perigo.
A juventude surge e o entusiasmo de percorrer a vida ainda não nos atemoriza e as forças continuam dando alento ao nosso ímpeto indomável. Não importa que na trajetória já existam passagens mais perigosas, pois nem tudo é plano e sereno como na infância. À vontade de correr é maior. Temos pressa em chegar na próxima estação da vida. A irreverência, muitas vezes, nos faz tombar. Caímos nos buracos que o caminho, pelo uso, nos oferece. A vitalidade de jovem, porém, vai superando, com galhardia e até zomba dos abismos, como se eles não oferecessem constantes e terríveis ameaças.
As estradas, também, por mais fortes que pareçam; por mais resistentes que sejam, vão cedendo ao uso e à inexorável erosão do tempo. Já existem crateras ameaçadoras que nos podem causar sérios acidentes. O fato de ainda restarem pedaços intactos, esquecemos dos perigos que já oferecem e teimamos em trafegá-la com a mesma velocidade de outrora.
Em nossa vida, nem sempre caminhamos na reta. Por maior que seja nossa resistência, temos que nos curvar aos obstáculos, contornando-os, para depois prosseguir em busca dos objetivos. Muitas vezes, nas curvas que fazemos na vida, deixamos coisas que desejaríamos levar, mas que algo estranho nos impede. Verdade que, bem próximo, outra reta poderemos encontrar, mas nunca mais sai da lembrança aquilo que fomos forçados a deixar, na última curva.
Nas estradas, igualmente, somos forçados a fazer enormes curvas, deixando, atrás, retas magistrais que delas jamais desejaríamos sair.
As curvas na vida não são apenas saudades e recordações agradáveis. Representam, igualmente, esperança de uma melhor caminhada. Muitas vezes estamos tão angustiados em nossa jornada que preferimos dobrar a estrada para tentar esquecer os dissabores, e, quem sabe, na próxima reta encontrar a paz que buscamos sempre.
Nas estradas, como na vida, nas retas encontramos percalços, damos trombadas e caímos nos abismos. Quando surge uma curva, respiramos aliviados, na esperança de logo surgir à nossa frente uma estrada desobstruída para trafegar tranqüilo e feliz.
Na vida, envelhecemos. Aí o nosso caminhar é lento. Tropeçamos a cada momento e o perigo das quedas é constante. As retas de tanta esperança vão ficando bem atrás e as curvas das decepções vão se tornando cada vez mais próximas. Nosso caminhar passa a ser tão lento que, às vezes, surge alguém para nos guiar, mostrando o melhor caminho. Não temos mais forças. Não atinamos o rumo a seguir. Estamos sem entusiasmo, cansados e somos obrigados a parar.
As estradas também envelhecem. Ficam desgastadas. Não há mais retas nem curvas. São percorridas em ziguezague, como se não houvesse um rumo a seguir.  Por maior que seja nossa vontade, a caminhada é cada vez mais vagarosa, até que paramos vencidos pelos obstáculos.
Esta parada, tanto na vida como na estrada é terrível. Nunca aceitamos parar. Tentamos voltar para reencontrar a estrada nova percorrida no início da viagem. Inútil insistir. As nossas pegadas foram apagadas pelo vento. Os marcos que deixamos foram substituídos pelo caminhar das novas gerações.
Esperamos, pelo menos, rever aquelas retas enormes por onde transitaram nossas ilusões. Impossível. Nossa vista só alcança a última curva, onde ficou escondido todo o nosso viver de entusiasmo e esperança.
Acabamos, ali, parados, sem nem um companheiro com quem possamos, pelo menos, relembrar as alegres jornadas e chorar nossas saudades e decepções. Naquela consternação, sentimos o coração também parar e partimos sem saber se ele cansou de amar, ou se parou porque não mais palmilhou uma estrada onde encontrasse o amor.












Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita, indique aos amigos.