ESTRADAS DA VIDA
João Eudes Costa
Nossa vida muito se
assemelha a uma longa estrada. Quando somos criança, temos forças para
percorrê-la, com destemor, sem nos preocupar com qualquer obstáculo. Quanto
mais andamos maior a vontade de prosseguir, como se não houvesse o dia seguinte
para continuar a caminhada.
As estradas novas
também são assim. Longas, limpas, sem as rugas que nos convidam a correr, a
alcançar distâncias no menor espaço de tempo possível. Nelas caminhamos com
denodo, confiantes sem nos lembrar de qualquer perigo.
A juventude surge e
o entusiasmo de percorrer a vida ainda não nos atemoriza e as forças continuam
dando alento ao nosso ímpeto indomável. Não importa que na trajetória já
existam passagens mais perigosas, pois nem tudo é plano e sereno como na
infância. À vontade de correr é maior. Temos pressa em chegar na próxima
estação da vida. A irreverência, muitas vezes, nos faz tombar. Caímos nos
buracos que o caminho, pelo uso, nos oferece. A vitalidade de jovem, porém, vai
superando, com galhardia e até zomba dos abismos, como se eles não oferecessem
constantes e terríveis ameaças.
As estradas, também,
por mais fortes que pareçam; por mais resistentes que sejam, vão cedendo ao uso
e à inexorável erosão do tempo. Já existem crateras ameaçadoras que nos podem
causar sérios acidentes. O fato de ainda restarem pedaços intactos, esquecemos
dos perigos que já oferecem e teimamos em trafegá-la com a mesma velocidade de
outrora.
Em nossa vida, nem
sempre caminhamos na reta. Por maior que seja nossa resistência, temos que nos
curvar aos obstáculos, contornando-os, para depois prosseguir em busca dos
objetivos. Muitas vezes, nas curvas que fazemos na vida, deixamos coisas que
desejaríamos levar, mas que algo estranho nos impede. Verdade que, bem próximo,
outra reta poderemos encontrar, mas nunca mais sai da lembrança aquilo que
fomos forçados a deixar, na última curva.
Nas estradas,
igualmente, somos forçados a fazer enormes curvas, deixando, atrás, retas
magistrais que delas jamais desejaríamos sair.
As curvas na vida
não são apenas saudades e recordações agradáveis. Representam, igualmente,
esperança de uma melhor caminhada. Muitas vezes estamos tão angustiados em
nossa jornada que preferimos dobrar a estrada para tentar esquecer os dissabores,
e, quem sabe, na próxima reta encontrar a paz que buscamos sempre.
Nas estradas, como
na vida, nas retas encontramos percalços, damos trombadas e caímos nos abismos.
Quando surge uma curva, respiramos aliviados, na esperança de logo surgir à
nossa frente uma estrada desobstruída para trafegar tranqüilo e feliz.
Na vida,
envelhecemos. Aí o nosso caminhar é lento. Tropeçamos a cada momento e o perigo
das quedas é constante. As retas de tanta esperança vão ficando bem atrás e as
curvas das decepções vão se tornando cada vez mais próximas. Nosso caminhar
passa a ser tão lento que, às vezes, surge alguém para nos guiar, mostrando o
melhor caminho. Não temos mais forças. Não atinamos o rumo a seguir. Estamos
sem entusiasmo, cansados e somos obrigados a parar.
As estradas também
envelhecem. Ficam desgastadas. Não há mais retas nem curvas. São percorridas em
ziguezague, como se não houvesse um rumo a seguir. Por maior que seja nossa vontade, a caminhada
é cada vez mais vagarosa, até que paramos vencidos pelos obstáculos.
Esta parada, tanto
na vida como na estrada é terrível. Nunca aceitamos parar. Tentamos voltar para
reencontrar a estrada nova percorrida no início da viagem. Inútil insistir. As
nossas pegadas foram apagadas pelo vento. Os marcos que deixamos foram
substituídos pelo caminhar das novas gerações.
Esperamos, pelo
menos, rever aquelas retas enormes por onde transitaram nossas ilusões.
Impossível. Nossa vista só alcança a última curva, onde ficou escondido todo o
nosso viver de entusiasmo e esperança.
Acabamos, ali,
parados, sem nem um companheiro com quem possamos, pelo menos, relembrar as
alegres jornadas e chorar nossas saudades e decepções. Naquela consternação,
sentimos o coração também parar e partimos sem saber se ele cansou de amar, ou
se parou porque não mais palmilhou uma estrada onde encontrasse o amor.
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